Quem é um tolteca?

Trecho de Carlos Castaneda e a Fresta entre os Mundos – Vislumbres da Filosofia Ānahuacah no Século XXI. Rio de Janeiro: Litteris, 2012.
Luis Carlos de Morais Junior

Soneto 7

Luis Carlos de Morais Junior

Nagualismo? Não importa o que isso seja!
Minha religião é o universo…
Fluxo turbilhonante aonde adeja
A força clara e rútila do verso.

Chego a pensar que seja um pluriverso
Que ruge e ri, se harmoniza e troveja.
Está em si e além, é o verso e o inverso,
E então renasce, quando se deseja

Com desejo profundo e bem sincero.
Seu nome é Eros, mas tem qualquer nome
Porque é uma fera; urge, sente fome

E arde em fogo que nunca se consome.
É Ouroboros, e, com todo o esmero,
Ele me gera e (ao mesmo tempo) o gero.

(In Sonetos)

Okse nechka…

Abrimos o livro, e começa uma história.

Vemos um jovem, de idade indefinida, que tanto pode ser vinte e tantos quanto trinta e tantos anos, não é americano, mas mora nos Estados Unidos e estuda na UCLA, Universidade da Califórnia; esse rapaz viaja periodicamente ao México, com seu carro, para procurar um índio, Don Juan (mas, declara que esse não é o seu verdadeiro nome), e com ele aprender feitiçaria.

O jovem se chama Carlos, e sobre tal informação, também alega ser falsa. Em certo momento, quando Don Juan vai lhe apresentar seu companheiro de feitiçaria Don Genero, dirá algo assim: eu já lhe falei que nunca deve revelar o nome ou o local onde está um feiticeiro.

O texto do livro (que, na verdade, são vários, o mesmo aprendizado se desdobra, aprofunda e diferencia em cada novo volume) nos envolve.

O autorretrato que Carlos pinta é de um rapaz de baixa estatura, que se considera inadequado, tímido, covarde, malsucedido nos trabalhos e estudos, não tem grana, é latino, e nem se sabe de onde ele é.

Parece não ter imaginação e, a cada nova revelação do aprendizado, ele vem com um monte de objeções do senso comum mais chocho; tem medo até da própria sombra, que dirá ficar sozinho na mata ou no deserto, ou encontrar com criaturas de “outros mundos”. Morre de pavor, a cada nova aventura.
E Don Juan é terrível, inclemente. E tem superpoderes, sendo, o menos escandaloso deles, talvez, ficar dias sem comer e beber água, andando pelo deserto, e tentando induzir Carlos a fazer o mesmo .

Carlos Castaneda fez algo duplamente revolucionário, em seu trabalho de campo e relato.

Ele mudou não só os conceitos de ontologia, feitiçaria, antropologia e ciência social, como enriqueceu e tornou possível um complexo conhecimento genuíno das civilizações americanas pré-colombianas, não marcado pela visão eurocêntrica, mas deixando a tradição falar por si mesma. Segundo suas palavras: “O sistema de crenças que vim estudar me devorou”.

O outro lado da sua revolução é que ele trouxe uma possibilidade de evolução real para o ser humano, enquanto espécie e enquanto indivíduo (conectados e ao mesmo tempo independentes), através da possibilidade de nos relacionarmos com o nauallotl (o nagualismo – pronuncia-se: naualismo).
Uma das formas de procurar entender o Nagualismo (Nauallotl) ou Toltequidade (Toltecáyotl) é nos determos um pouco sobre as características da razão clássica ocidental, e procurar ver em que medida a feitiçaria as ratifica ou retifica (enquanto uma certa ciência do senso comum as reifica). Mesmo o homem comum e o seu uso do bom senso e do senso comum, em nosso mundo, vêm marcados pelos princípios da razão clássica, e, seja ele um cientista ou um homem da rua, considera loucura o que dela fuja:

1) Princípio da identidade. Uma coisa tem uma “essência” ou identidade única, como quando se define uma figura geométrica, um triângulo é uma figura de três lados, e uma figura de três lados é um triângulo, sempre. Uma coisa é uma coisa e nunca deixa de ser o que é, sempre retém a sua identidade. Jorge é sempre Jorge, ele nunca “vira” uma outra pessoa ou coisa. Esse princípio se desdobra nos dois próximos.

2) Pricípio da contradição. Uma coisa não pode contradizer sua própria “essência”, sua identidade. O triângulo não pode ser uma figura de quatro lados. Jorge não pode deixar de ser Jorge.

3) Princípio do terceiro excluído. Sempre que surgem duas alternativas, uma delas é a verdadeira, e, ipso facto, a outra é falsa, não havendo uma terceira possibilidade. Isso é um triângulo ou não? Ou sim, primeira possibilidade, ou não, segunda. Não há uma terceira. Claro que ele pode ser um círculo, um quadrado etc. Mas aí se fundam novas alternativas, que sempre excluem a terceira possibilidade. Vejo alguém de longe; pode ser o Jorge. Ou é o Jorge ou não é o Jorge. Não há uma terceira cláusula.

4) Princípio da causalidade. Tudo tem suas causas, nada vem do nada. Esse triângulo foi desenhado por alguém, essa cadeira foi fabricada, Jorge teve pais. Se eu desconhecer a causa de algo é apenas uma limitação do conhecimento, mas, esse algo tem que ter uma causa.

Já comentamos que, em O Poder do Silêncio, Don Juan afirma que há duas posições antípodas do ponto de encaixe que a humanidade conhece: a posição da razão (que leva à submissão aos princípios racionais) e a posição do conhecimento silencioso (que leva à não piedade). Vamos ver agora como a Toltecáyotl se diferencia dos princípios da razão:

1) Princípio da identidade. Cada ser é constituído de um aglomerado de emanações da Águia, quer dizer, de fibras do todo energético, e todas elas são conscientes. Logo não podemos nos entender como uma unidade só, mas sim como um mosaico, uma polifonia de visões e sensações, que se harmonizam num ser (a natureza esquizo do ser, em O Anti-Édipo, de Deleuze e Guattari ). Em I was Carlos Castaneda, o famoso antropólogo fala ao escritor Martin Goodman que o homem tem três cérebros que não independentes e funcionam independentemente, sendo que, de acordo com a situação ou a pessoa, um deles pode predominar totalmente sobre os outros: o paleocortex, o mesocortex e o neocortex. O primeiro é o cérebro R, dos répteis, que só se preocupa com território, alimentação e sexo. O segundo é o cérebro dos mamíferos, que se centra nas questões afetivas. O terceiro é o cérebro humano, que inventa, fantasia, raciocina etc. Mesmo numa descrição fisiológica, não somos um só. Jorge Mautner gosta de falar que temos quatro cérebros que fingem que são um só, porque aí ele está tendo em conta os hemisférios direito e esquerdo.

2) Princípio da contradição. Tudo que o tolteca afirma ele cumpre, ele é muito rigoroso com suas palavras, porque considera que elas intentam, e não podem ser mudadas. Neste sentido, ele não se contradiz. Mas, logicamente falando, quando Don Juan, por exemplo, vira um corvo, ele está “contradizendo” sua essência humana, e é nesse sentido que a feitiçaria sai dos limites do princípio da contradição. A espreita, quando induz comportamentos inusuais e inesperados, mesmo pelo próprio espreitador, também.

3) Princípio do terceiro excluído. Então, Jorge é um índio do terceiro mundo, que viveu numa reserva, e atualmente caça no deserto. Então ele é isso, e, tudo bem, podemos nos regozijar em vê-lo reproduzindo seu comportamento esperado, padrão. Mas quando ele discute os princípios do Cosmos, pro qual, aliás, ele apresenta toda uma nova terminologia e visão, ou quando ele veste um terno e investe na Bolsa de Valores, então ele é o Jorge índio e é uma outra coisa, ao mesmo tempo. Os exemplos dados na verdade se referem a Don Juan.

4) Princípio da causalidade. Os estoicos falam em quase-causas, pois não acreditam que os corpos afetem os corpos, e o que acontece, os efeitos, são os incorporais, os acontecimentos (“Ninguém faz nada a ninguém, especialmente a um guerreiro”, diz Don Juan). Essa expressão ou conceito, quase-causa, que já era, na Grécia antiga, uma forma de ultrapassar a razão clássica, poderia ser usada para o mundo dos toltecas também. Num universo predatório, cheio de camadas como uma cebola, em que o próprio ser humano é ele também uma pequena cebola, e recebe influxos visíveis e invisíveis o tempo todo, é preciso uma razão estoica e foucaultiana para sair da alienação da suposição de uma causa única, precisa e circunscrita para cada coisa.

Michel Tournier, em Sexta Feira ou os Limbos do Pacífico , mostra o encontro entre Robson Crusoé e Sexta-Feira como a eclosão desta nova lógica para aquele, que é descostruído tijolo por tijolo pelo “selvagem”, o qual, na verdade, em sua superracionalidade não aristotélica, é muito mais sofistica(do), e, mais importante, mais feliz, que o europeu.

Colocando juntas várias questões, devemos levar em consideração, para não cair na armadilha antievolutiva ou antievolucionária de tais críticas, o seguinte:

1 – Don Juan não representa uma cultura, nem yaqui nem alguma outra. É bobagem argumentar que quem usa o Mescalito, peyotl, o peiote, são os huicholes, e não os yaquis (Margaret nos conta que Carlos viajou com Don Juan para a terra dos huicholes, para participar de uma grande sessão de peyotl, o que está relatada em Uma Estranha Realidade, e na qual ele explica que ficou tentando encontrar um acordo tácito e uma forma não verbal de comunicação para definir o teor das revelações, coisa que, claro, não encontrou ). Carlos deixa bem claro que a toltequidade (nauallotl), o conhecimento tolteca, sua disciplina e sua luta, não se restringem a uma certa cultura, a uma sintaxe específica. Muito pelo contrário, o que se faz aqui é sair dos valores e limitações de qualquer visão de mundo, é explorar o ir além das possibilidades humanas. O lema dos toltecas é plus ultra. O lema dos reacionários, que eles nunca aceitam, é o nec plus ultra, o slogan medieval que dizia: você não pode ir além. Os europeus da Idade Média diziam isso sobre o mar que conheciam, os antievolucinários atuais dizem isso do “oceano da consciência”, outra expressão dos livros de Carlos. E isso também incomoda muita gente, média. Tenhamos em mente que há na linha de Don Juan guerreiros de várias nações indígenas, mexicanos, descendentes de europeus, americanos, e até pelo menos um chinês, o Nagual Lujan (o antigo, da linha de Don Juan Matus, não o autor atual de The Art of Stalking Parallel Perception, the Living Tapestry of Lujan Matus, do qual nada se sabe, mas que pelo uso que faz do inglês mostra ser estadunidense de nascimento, muito provavelmente, e se declara aprendiz energético e de ensonho do antigo nagual, de quem herdou o nome, nagual pronuncia-se: naual). Por outro lado, Carlos foi o mais fiel possível no seu intuito de relatar antropologicamente a cultura que encontrou, mas o que ele relata é a cultura profunda, aquela que sobreviveu em tantos povos autóctones como o grande plano tolteca que havia antes da invasão dos europeus e não deixou de haver, por trás das várias diferenças das designações dos povos do México (e da América).

2 – A “viagem a Ixtlan” de Carlos é iniciática, e todos os acontecimentos e personagens têm significados pragmáticos, para gerar no leitor um sonho de poder. Ele mesmo reforça, os seus são “Contos de Poder”, “Tales of Power”. Não faz sentido nenhum fazer verificações práticas dentro de esquemas preestabelecidos, do tipo tal fato cultural pertence a tal tribo, tal palavra é ou não falada por tal grupo, essa planta ou esse animal se encontram ou não na região citada. Seu relato é mágico, como um sonho, e tudo pode acontecer, e acontece. Sorriem porque fala de plantas que não há no deserto de Sonora, ou porque caminha por horas através dele ao lado de Don Juan, o que desidrataria qualquer um. Esquecem que em O Poder do Silêncio Carlos é perseguido por um jaguar (que ele mesmo relata que não existe na região, fato sobre o qual Don Juan faz ironia), e se torna um gigante para poder escapar. Ou que ele se desloca quilômetros em segundos, viaja na água, no fogo, através de paredes, no tempo, fica sem massa e penetra em outros corpos, vira um corvo, e se transforma em uma minhoca gigante com La Catalina. O texto é mágico, é uma máquina de experimentação, e não um amestrado e dócil rol de fatos comprovados ou prováveis. O que não faz dele literatura (ele costuma ser relacionado com o realismo fantástico latinoamericano, que é genial, mas é outra coisa; esse realismo fantástico tão importante como manifestação original da América Latina, e tão ligado às literaturas dos povos indígenas ). Nem quer mais ser uma “ciência social”, nem nenhuma ciência ocidental, que são, essas sim, ou estas também, malgrado sua pretensão, e sua presunção, mitos. A toltecáyotl se erige em Gaia Ciência, Ciência Real, real aqui entendido no sentido de realidade e realeza.

3 – Do mesmo modo com todas as verificações “sherlockianas”, que vão buscar documentos para comprovar que ele não estava onde dizia estar, ou que o tempo não era suficiente para o que ele diz que aconteceu, etc. Ora, a manipulação do ponto de encaixe e o acesso a outras emanações do casulo luminoso (e até fora dele) possibilitam feitos incríveis, como alterar o humor, a aparência, as feições, o sexo, a altura, a idade, e muitas outras características do feiticeiro, à vontade. E lhe permite também condensar o tempo em várias modulações, pois todos nós o fazemos, o tempo nunca transcorre “igual”. O feiticeiro, todavia, condensa muito mais, sendo capaz de viajar quilômetros em segundos, fazer uma cena se repetir na realidade, ou estar em dois ou mais lugares ao mesmo tempo. Podemos aplicar a tudo, inclusive a Castaneda, o crivo de Nietzsche: não importa se algo é verdadeiro ou falso, mas que modo de vida aquilo produz, se é forte (potente) ou tolo.

4 – Apareceram ex-discípulos decepcionados. A internet ajudou muito na eclosão deste fenômeno. Nem todos os sites são contra, é claro, a maioria é laudatória, e/ou traz recursos e informações importantes: downloads dos livros (principalmente em inglês e espanhol), as únicas notas de campo que chegaram até nós (Anexo A), fotos, entrevistas, resenhas de livros sobre ele etc. O “avô de todos os sites” deste tipo foi o http://nagual.net/. Importantes também, entre muitos outros, são o http://www.oldnagualnet.com/ e http://toltec-nagual.com/. A página Interviews do site Nagualism.com http://www.nagualism.com/interviews-articles.html oferece vinte e três entrevistas com Carlos, as bruxas, os instrutores de tensegridade e os rastreadores de energia, em língua inglesa, traz notas de seminários, in http://www.nagualism.com/warriors-notes.html, e links, in http://www.nagualism.com/nagualism-links.html. Víctor Sánchez, e sua organização AVP (La Arte de Vivir a Propósito), que promove seminários, nos oferece o sítio http://www.toltecas.com/. Há também o site Sustained Action, http://www.sustainedaction.org/, criado por Corey Donovan, que foi seguidor de Carlos e se decepcionou, e que traz a cronologia de nosso autor e das suas companheiras feiticeiras (essas cronologias, tão violentas para com a proposta do nagualismo, são uma espécie de filé mignon do site, e foram muito reproduzidas e muito facilmente aceitas por todos, sem questionamentos), reproduções de documentos, e bastante argumentação sobre a suposta não-cientificidade de sua obra, falsidade ideológica, relações com outras fontes que poderiam ter sido plagiadas, e explanações sobre “culto da personalidade” em seitas, coisa de que também o acusam. Ora, Carlos era um nagual de três pontas, ele tinha por natureza não reproduzir a sua linha, não ensinar aprendizes pessoais, mas sim fazer eclodir o conhecimento em incontáveis linhas novas, através da sua divulgação, o que, com certeza, ele fez. É o próprio fato de ter sido tão honesto, sincero e generoso que o leva a ser tão criticado. Ele revelou muita coisa, deu os instrumentos evolutivos para todos que quiserem aprender. Ainda, sua técnica de ensinamento radial o levava a atacar os egos e autoimagens de todos, a começar por si mesmo. Muita gente não suporta isso, ou o fato de que ele não era “bonzinho”, humanista, mas sim evolutivo.

Mudando de tema, o que você nos pode dizer sobre os detratores da mensagem de Carlos?
Em geral, são pessoas que se sentem defraudadas. É como se o Nagual lhes tivesse prometido algo e não o houvesse cumprido. São pessoas despeitadas. Aquilo que têm é pura importância pessoal.

5 – Antropológica e politicamente, Carlos Castaneda inaugura nos meios acadêmicos e editoriais ocidentais a ideia e a proposta real e séria de que os índios da América pré-colombiana não eram “primitivos”, “selvagens” e “neolíticos”, mas tinham sim um conhecimento teórico e prático que, no mínimo, se ombreia em complexidade, racionalidade e funcionalidade com a ciência e a filosofia de origem europeia. Ele traz a presença de um índio forte, sábio, poderoso e rico. Não é mais o interesse “filatélico” por palavras e artefatos, como curiosidades bobas. O que ele nos mostra é uma máquina incrivelmente potente de transmutação e evolução, que existe nos dias de hoje, está presente, e é a verdadeira cara da cultura panamericana dos povos ameríndios não aculturados e que têm muito a nos ensinar: a toltequidade.

Um que entendeu tão melhor a sua proposta, e logo, foi o poeta Octavio Paz.

Estranhamente, o governo mexicano promoveu um delay entre a publicação ianque dos Teachings of Don Juan e a versão em espanhol, Las Enseñazas. Dizia-se que temiam que os jovens americanos entrassem pelo México, e que os próprios mexicanos vasculhassem tudo, atrás de Don Juan. Estranhos motivos… pra esse atraso!

A hipóteses com as quais trabalho são:

1 – O nagualismo é uma prática real, efetiva e original, criada por colaboração de várias culturas americanas; visa à qualidade de vida, à criação de uma vida superior, à libertação de elementos baixos do ethos humano, e à evolução do indivíduo e da espécie (o que Nietzsche chamava de super-homem).

2 – O nagualismo é um dos primeiros e mais fortes fenômenos panamericanos, era praticado ao longo de todo o continente que um dia viria a se chamar América, desde o Alasca até a Terra do Fogo, sob diversos nomes, em diferentes línguas, e com muitas técnicas específicas acopladas, mas era uma descoberta continental, que os povos mongólicos fizeram aqui ao longo dos milênios de adaptação. Está nas feiticeiras canadenses, nas inúmeras nações pele-vermelhas que viveram no que hoje são os Estados Unidos e México, nos maias, nos incas, e entre os milhares de povos da América do Sul .

3 – Carlos Castaneda fez um achado antropológico de uma importância gigantesca; encontrou a ponta de um iceberg. Ele mesmo deu várias indicações comprovadoras, e, ao lado dele, depois dele, independemente dele, como vamos demonstrar, essa pesquisa de resgate e reatualização continua, numa potencialização cada vez maior, rumo a uma evolução específica, o que era justamente a proposta e a profecia desses povos pré-colombianos: em 2012 entraremos no 6° sol, e a redescoberta do nagualismo tem papel fundamental nessa transformação.

4 – Hoje sabemos, inclusive por comprovação genética, que povos do oriente vieram viver na América, através de vários caminhos, Estreito de Behring, ilhas Aleutas e até embarcações. Trouxeram o embrião do que seria o nagualismo, numa visão xamãnica original, diferente da euroafricana, e que na Ásia se desenvolveu em várias tradições fortes e milenares, como o hinduísmo, o taoísmo e o zen. Esse gérmen aqui deu em muitos frutos de conhecimento, mas a maioria deles está ligada pela perspectiva nagualista (mesmo com outro nome, dependendo da língua e da cultura do povo).

5 – O nagualismo não é religião, nunca foi, e perde sua força e suas características quando é assim tratado. Por outro lado, ele é uma herança viva e ativa dos povos americanos, um dos mais lindos presentes que damos ao mundo humano, e podemos, todos e cada um de nós, nos beneficiarmos dele, de uma forma tão efetiva e afetiva quanto o faziam os povos que aqui viviam, há centenas e milhares de anos atrás.

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