Manifesto da reciclagem: por uma antiarte poética

Livro: Poesia e Reciclagem

A “antiarte” é um referencial de grande significação na história das vanguardas que instauraram, desde inícios do século XX, a renovação da “arte moderna”. Na atualidade, em pleno “pós-modernismo”, Luis Carlos de Morais Junior reinveste essa proposta de desconstrução dos cânones que impedem ao fenômeno estético, pelo compromisso com a forma pré-estabelecida, ser plena expressão.

Ao invés de uma total ruptura com o que emergiu de revolucionário no modernismo, assim a pós-modernidade é recuperação do que foi obnubilado pelos recobrimentos academicistas daqueles saudáveis impulsos. Entre a colagem “dadá” e o “neodadá” pop, a linguagem da produção estética se auto-radiografa para mostrar como é feita, não de regras de estilo, mas dos fragmentos de sentido coados pela pluralidade dos meios e práticas culturais em que transita a vida comum e se faz a história efetiva.

O engajamento é imediato e ativo. Se a “arte” seria a norma, a “antiarte” é insurgência. Doravante, é o canal de depuração dos direcionamentos discursivos para constituir-se a denúncia e a revelação na captação mostrada do que tem livre curso no cotidiano.

A “reciclagem” é exatamente essa captação, em que, na originalidade dos seus recursos próprios de expressão linguística, Luis Carlos lança a poesia nos caminhos sempre renovadores dos ready-mades de Marcel Duchamp. De fato, na era do signo, o que há para constatar é que tudo é já-feito, mas assim cabe a esse operante do efeito, que é o investimento estético, auto-analisar-se como lugar da reprodução do sentido veiculado como dado, para baralhar as cartas do pré-significado condicionante e reordenar os resultados. Este lugar é pois o da liberdade.

 

Eliane Colchete

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