Noel Rosa e a Cidade – Parte 2

Noel Rosa nasceu no Rio de Janeiro, Vila Isabel, em 11/12/1910, filho de Manuel Medeiros Rosa, gerente de camisaria, e da professora Marta de Azevedo.

Sempre morou na mesma casa da rua Teodoro da Silva, no número em que depois se construiu um prédio com seu nome.

Seu nascimento foi a fórceps, que causou fratura e afundamento do maxilar e paralisia na face direita, os quais operou aos seis e reoperou aos doze anos de idade.
Quando o pai foi trabalhar como agrimensor de uma fazenda de café, a sua mãe abriu uma escola em casa, e sustentava os dois filhos, Noel e Hélio, o mais novo nascido em 1914.
Noel estudou no Colégio Maisonnete, depois no São Bento, onde ficou até 1928, onde os colegas o chamavam de Queixinho.

Casou-se com Lidaura, que estava grávida, em 1934, mas ela perderia o filho.

Noel era boêmio e mulherengo, e, no início de 1935, tuberculoso, viajou com a mulher para se tratar em Belo Horizonte, onde se hospedou na casa de uma tia. Mesmo lá Noel frequentava a boêmia da cidade, e se apresentou na Rádio Mineira. Nesse ano recebe a notícia do suicídio do pai, que se enforcou na casa de saúde onde tratava os nervos.

Noel volta ao Rio de Janeiro, e em 1936, vai a Nova Friburgo, onde também bebia e cantava. No mesmo ano vai para Barra do Piraí. Após uma semana, visitou, no dia 1 de maio, a represa de Ribeirão das Lajes e começou a sentir arrepios e a passar mal. Retornou à pensão com febre.

Durante a noite sofreu uma grave crise de hemoptise e o médico que o atendeu advertiu que não havia recursos para tratar dele naquela cidade. Na manhã de 2 de maio, voltou ao Rio com Lindaura, às pressas, num táxi, em estado muito grave, do qual não conseguiria se recuperar. Ao longo de dois dias recebeu visitas de muitos amigos, entre os quais Marília Baptista e Orestes Barbosa, que procuraram animá-lo.

Morreu na noite do dia 04 de maio, enquanto em frente à sua casa comemoravam o aniversário de uma vizinha numa festa em que tocavam suas músicas.

Noel Rosa criou um paradigma de compositor/letrista/intérprete inteligente, debochado, sofisticado, sofístico, popular.

Reencontramos este afã de não ter afã, este apegar-se sem apego à urbe e às suas malhas e telas, devir de água-viva que busca a linha de mínima resistência atingindo no devir-água quase sem esforço o seu objetivo, remando contra a corrente, rindo de si e dos outros, o poeta malandro que faz a pedra preciosa impossível, pisando em sombras, correndo sobre a lâmina, em Chico Buarque cantando “Sambando na Lama” .

Às vezes o malandro passa mal: mas sempre fino, não se queixa, nem se rende ao ideário do capital, pois os trabalhadores não estão melhor que ele, e, mesmo o guarda que o oprime, está com o salário atrasado.

Alguém que, numa terra de machões, se confessa “Tarzã, o Filho do Alfaiate”:
Quem foi que disse que eu era forte
Nunca pratiquei esporte
Nem conheço futebol
O meu parceiro sempre foi o travesseiro
E eu passo o ano inteiro
Sem ver um raio de sol
A minha força bruta reside
Em um clássico cabide
Já cansado de sofrer
Minha armadura é de casimira dura
Que me dá musculatura
Mas que pesa e faz doer

Surge uma nova perspectiva da relação mulher/homem, anti-machista e não feminista, na letra de “Você vai se quiser”, onde aparentemente deixar a mulher trabalhar seria permitido a contragosto, mas logo se vê que seria o contrário, contragosto se ela não trabalhar, pois “por causa dos palhaços/Ela esquece que tem braços”. twO machismo não vem só, vai mal acompanhado.

Contra um pensamento rígido que não é pensamento nenhum, é ordem, é obediência.

Ao lado do programa obediente do machismo, o racismo, os preconceitos de classe e o nacionalismo.

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