Entrevista com Luiz Carlos Maciel – parte 7

D: O Mautner, quando tava me falando sobre o trabalho deles, me apresentando, tava dizendo que essa revista (Tecnogaia) era um esforço dessas pessoas que trabalham dentro da academia em trazer o mundo mais pra dentro da academia. E eu vejo em todos os lugares a necessidade urgente de beber de diversas fontes, de conseguir uma maneira de pensar que permita que várias formas de pensar convivam, dialoguem.
LCM: É. Em 72, na época da contracultura, teve umas experiências que foram feitas na Inglaterra, principalmente, nos EUA, nesses países assim, do que chamavam de anti-universidade, ou universidade livre.
CC: Aqui teve a Univerta.
LCM: A Multiversidade, também. Que é um negócio assim de uma anti-academia, quer dizer, tem cursos, tem palestras, grupos de trabalho, mas não tem nenhuma rigidez. É tudo experimental.
LCMJ: Aquela coisa burocrática, ter que dar um programa.
LCM: Você ser contratado.
D: Que é um certo extremo, também.
LCMJ: Não, não fica só nisso. Você tem 60 anos, ou você é analfabeto, e você quer ouvir uma palestra…
D: Eu compreendo, eu só quero dizer é que numa coisa totalmente livre, numa coisa mais ou menos, na academia normal, essa necessidade é premente o tempo inteiro, porque as coisas estão a cada diz nas ruas, porque o mundo é muito múltiplo, e você fica discutindo que o pensamento oriental não é filosofia, o pensamento africano menos ainda, índio quer apito, fica um anti-pensamento, quer dizer, a anti-universidade já é a universidade convencional.
CC: Eu quero pegar a questão do progresso e da crítica ao progresso. Tanto o capitalismo como as alternativas de socialismo real eram vistos lá no contexto da contracultura como visões industrialistas, que tinham um crença no progresso inexorável da humanidade e esse progresso seria desumano, horário burocrático, esse tipo de coisa. E isso aí tem a ver com a revolução industrial, com o momento em que o homem se vê diante dessa produção em massa pro mercado.
LCM: Isso aí na verdade tem a ver muito com a cultura ocidental desde as suas raízes, desde a descoberta da tekhné grega, num preceito científico deficiente da ciência ocidental, que ocasionaram o quê? O que o filósofo alemão Martin Heidegger chama de esquecimento do ser. Então, o ser foi esquecido, em função da ciência e da técnica. Eu não estou dizendo que ciência e técnica sejam necessariamente más. Mas o domínio da ciência e da técnica é mau, e a vítima é o ser humano. É uma alienação. É o que Heidegger chama de esquecimento do ser e linguagem, o hegeliano marxista vai chamar de alienação.
CC: Mas talvez aquilo que o Escobar estivesse querendo dizer naquele momento, que pareceu totalmente etnocêntrico, que os gregos pensaram mais e melhor etc, tirando esse negócio de mais e melhor, uma busca lá no Oriente, o próprio Fritjoff Capra vai buscar lá no taoísmo alternativas, mas o próprio Ocidente produziu antídotos pra isso, Heráclito, você falou em Heidegger, Nietzsche, a própria narrativa ficcional.
LCM: O pensamento oriental, a força do pensamento oriental, como repara Alan Watts, não é filosófica, não é pensamento especulativo. O pensamento oriental, o objetivo do pensamento oriental é o que em termos ocidentais se chamaria de psicoterapia. O objetivo é uma elevação do nível de consciência. Budismo, meditação, yoga, tudo isso é pra elevar a consciência do indivíduo. E nesse sentido ele é muito mais avançado do que qualquer coisa que tenha sido feita no Ocidente.
CC: Ele é uma busca de saúde.
LCM: É, de saúde. Porque no Ocidente isso ficou relegado à religião, a religião igualmente alienada. A religião dualista, a religião do outro mundo, a religião mitológica. E não ficou como uma coisa natural. Quando você diz que o Fritjoff Capra é taoísta, não há uma igreja taoísta. Há o Chuang Tze e o Lao Tze, há o pensamento taoísta. Então esse pensamento tem esse valor, de valorização do indivíduo, no caminho pra sua libertação. O Ocidente não chegou perto disso. O que foi que o Ocidente fabricou? Fabricou a psicanálise, Freud.
LCMJ: O que você está chamando de libertação? Por exemplo, na tradição do Ocidente existe a ideia da alma ir pro paraíso, se libertar, na psicanálise seria a cura, ou então o estado nirvânico… O que você está chamando de libertação?
LCM: Um estágio superior da consciência, a expansão da consciência.
LCMJ: Você acha que existem espalhadas pelo mundo técnicas…
LCM: Do mesmo jeito que no Castaneda tem a terceira atenção, no orientalismo tem nirvana, são terminologias diferentes, mas todos são estágios superiores da consciência. É a hipótese de um estado supremo da consciência.

Leave a comment