Entrevista com Jorge Mautner – parte 7

JM: Aí eu respondo como Heidegger, que Nelson corrigiu: “O futuro virá através da cibernética num planeta em que todos serão controlados e controladores”, de novo a simultaneidade, é a amálgama do real e do virtual, da democracia e da ditadura. Então, é claro que a democracia pela, é outro mundo. E o Nelson diz que a frase é errada, que devia ser assim: “O mundo através da cibernética será um planeta mantido por descontroladores e descontrolados”. (Risos) É a simultaneidade, é difícil você não enxergar a simultaneidade. A simultaneidade é tamanha que o próprio acusado Roberto Jefferson reverteu o processo e passou a acusador, simultaneamente.
D: E quem deu um soco na cara dele? Aquilo é um soco na cara que ele reverteu rapidamente a seu favor. Aquilo é um gênio. Agora, eu fiz esse estudo da coisa do Asimov, por exemplo.
JM: Ah, ele é maravilhoso.
D: Pois é. Então, os robôs florestais que eu criei, eles são em cima da coisa do Asimov, que você não tem que fazer uma criação pra destruir, isso é um problema psicológico que deve ser corrigido com os chips. (Risos) Eu acho isso uma esperança. Porque milhares de anos pra convencer as pessoas pelos caminhos comuns. Então, eu acho que… Isso me impressionou muito quando eu li na obra dele. Uma faca não vem cortar a sua garganta.
JM: Lógico. A fenomenologia já tem isso como base. Um cinzeiro pode ser usado pra você botar cinza, pode se tornar uma arma, pode lhe rachar o crânio, pode ser um misterioso totem de uma tribo desconhecida, pode ser uma arte-cinzeiro e não ser cinzeiro, e por aí vai. É o uso que você faz que lhe dá o sentido.
D: E na verdade, a coisa mais misteriosa pra mim, que eu coloquei nesse romance, é que essas amazonas elas criam uma nova forma de vida, elas criam um robô que é uma criatura selvagem, que não é pra ser tratado como uma coisa que você aperta aqui, “vem cá, agora bate palminha”, não é. Ele é um ser que foi feito pra ser adaptado ali, pra exercer uma função ali, e que a pessoa não pode querer dar mole, que nem cobra, onça. Ele é um ser selvagem. Ele não tolera determinados tipos de coisas.
LC: Você se baseou nas três leis da robótica do Asimov?
D: Mas eu fiz a quarta.
LC: Qual é a quarta?
D: É a lei do eco-equilíbrio da selva, é a lei da questão nova mesmo.
LC: Mas ela tá subsumida, então, antes vem a sobrevivência humana, em quarto lugar vem a da selva?
D: É que ela fica recessiva, até que haja a necessidade de matar ou morrer.
LC: Mas entre atacar um homem e salvar a selva…
D: E salvar o conjunto? Ela ataca quem for. Ela tá lá pra trabalhar pelo conjunto.
LC: Então ela vai se sobrepor às outras três leis?
D: Ela é recessiva, mas no momento, ela se torna uma coisa que, eu sinto muito, mas é a lei da sobrevivência selvagem.
LC: Uau.
D: Cada um por si e Deus por todos.
JM: É Darwin reinstalado. Certíssimo. Darwinismo reinstalado. Muito bom.
D: E é uma coisa engraçada. Que tem sacanagem. O que seria o sexo numa época em que as mulheres estão no poder, quais são os arranjos. Quais são as brincadeiras.
CV: Esse romance você já lançou ou ainda vai lançar?
D: Não, eu terminei tem um ano e meio, eu recebi três nãos e fui fazer meu longa. Eu não insisto muito não, eu tenho essa coisa pouco fálica, digamos. Eu espero que um dia, uma hora, entendeu? Eu fico muito triste quando recebo um não.
LC: É horrível a rejeição, já recebi .milhões.
D: Ninguém gosta, né?
LC: Não é ninguém gosta, a questão toda é mercado. Se você for fulano de tal. Se você for a mulher da banheira da Gugu, você publica. (Risos)
D: Ninguém gosta de receber um não.
LC: É chato.
D: Mas a mulher da banheira do Gugu deve receber não pra outras coisas.
LC: Vem cá. As amazonas existiram? Existem ou existiram?
D: Eu acho que existem muitas…
LC: É um mito ou é uma lembrança?
D: É uma lembrança também.
LC: Você acha que os mitos recobrem lembranças antigas?
D: Em geral eu acho que o mito sempre tem um fundo de verdade. Mas em particular, eu diria que, eu estudei, e existem indícios antropológicos.
LC: Do matriarcado.
D: A reação ao início do patriarcado. Quando você tem umas mulheres quer resolvem parar de caçar e de ralar, e esperar que algum cara resolva, tem umas mulheres que eu acho assim, que descobrem que existe um ficar em casa, parindo uns filhos, fazendo a coisa mais leve. É essa reação a essa coisa do matrimônio.

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