Entrevista com Jorge Mautner – parte 5

JM: Eu não respondo essa pergunta, porque, veja bem… E é interessante citar que no Brasil, e essa glória cabe ao exército brasileiro – o Roquete Pinto e o Marechal Rondon, quando fizeram o Amazonas e levaram a Teodoro Roosevelt o cipó. O próprio William Burroughs, no Naked lunch, ele fala que de todas as drogas, a mais rara, a melhor, a mais misteriosa – é a Ayauasca, do Santo Daime, que foi tombada pelo exército brasileiro.
LC: E não é proibida.
JM: Até o último mandato de Fernando Henrique, a Drugs and Foods Agency tentou colocar como psicotrópico proibido, mas a Cofem resistiu, e agora parece que os próprios Estados Unidos admitiram, com vários exames lá. Enfim, ela é um psicodélico saudável. Eu tenho amigos meus que eram traficantes viraram monges. Na Europa e no Japão vendem oficialmente nas farmácias. O problema todo é político. Atualmente, eu acho, as famílias, o medo das crianças. Se você legalizar, você não tem breque. Eu não sei o que eu acho. A maioria absoluta quase de todos os meus amigos, meus colegas, artistas, poetas são a favor da legalização.
LC: Mas só da maconha, ou de todas?
JM: Não, de todas. Por que vai se escolher de repente uma ou outra? Aí você entra num terreno louco.
NJ: Porque realmente proibir a maconha não tem sentido. Ninguém morre de overdose de maconha.
LC: De álcool sim, e o álcool é liberado.
JM: Ficção. Liberada a maconha e o haxixe e o skank, mas é proibida a cocaína e a heroína. No entanto, ela é vendida à vontade, essa cocaína e heroína, aí nas praças, porque, se tá legal, uma abre o precedente jurídico prà outra.
NJ: Mas já não tá vendendo à vontade a cocaína? E é proibido, quer dizer, eu acho que o fato de ser proibido…
JM: Porque aí o garoto de Budapeste, de Washington, inicia a guerra mundial atual.
LC: O garoto que vai comprar, ele vai se envolver com marginais, com bandidos, com um monte de coisas que ele não se envolveria…
NJ: Igual ao álcool, você vê quanto burguês…
JM: Vocês não precisam do meu voto. (Risos)
NJ: Ele não precisa se envolver com bandido, você vê quanto burguês alcoólatra. A gente tem que ver o seguinte: quantas pessoas por ano morrem de overdose e quantas morrem na venda da droga?
LC: E os outros problemas que o envolvimento com a droga traz.
(Nesse e em outros momentos todo mundo fala junto, não dá pra saber o que cada um diz.)
JM: Vocês querem é liberar a droga… (Risos)
LC: Vamos mudar de assunto, então.
JM: Eu só vou dizer uma frase de pessoa muito paradigmática dessa época, e de outras, porque ele vai ficar na história, John Lennon, que disse a seguinte frase: o álcool e as drogas me deram asas para voar, e depois me tiraram o céu.
NJ: Isso é outra coisa, é saber parar. Eu sou contra as drogas, mas o fato de ser contra as drogas não quer dizer que seja a favor da proibição.
LC: Da criminalização daquele que usa.
NJ: Isso é outra coisa.
CV: A gente falou sobre cientificidade, eu quero falar sobre o seu processo criativo, ele é cientifico ou ele é caótico? (Risos)
JM: Ele é o super-científico kaótico. (Risos)

Parte 2

Quase cinco horas, Jorge Mautner e Nelson Jacobina tinham que pegar sua amiga cineasta Dandara em Botafogo e levá-la prà casa de Nelson em Santa Teresa, para ver na sua tela grande com dvd o filme que Dandara fez. Jorge Mautner chamou dois táxis, que chegaram juntos. Indecisão na hora de embarcar. Jorge entrou com Nelson no táxi da frente. Cláudio e Cid sentaram no banco traseiro do táxi que vinha atrás, eu entrei na frente e falei pro motorista: “Siga aquele táxi”, cujas letras da placa guardei, o que foi muito bom, porque várias vezes o nosso motorista já ia confundindo os carros amarelos que via à frente.

Em Botafogo esperamos os vários minutos de praxe e Dandara surgiu linda com sua filha Iara, de dez anos. As duas entraram no táxi da frente. Na praia, Cláudio Carvalho falou: “Para o táxi que eu quero descer”, ao que Luís Carlos replicou: “Só se você deixar conosco o gravador e a grana do táxi”, o que Cláudio fez de bom grado aparente.
Chegamos na aprazível vivenda de Nelson, com seus gatos e cachorros, nos instalamos na sala, e Dandara começou a falar de A vingança das amazonas, o romance que escreveu. Pedi licença e liguei o gravador, o que foi uma espécie de continuação do papo com Jorge, agora com Dandara também. Várias vezes todos falaram ao mesmo tempo, o que torna incompreensível a gravação.

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