O Desfile das Escolas Eletrônicas

Luca era um cara normal, não especialmente tímido ou fraco, nem franco, mas como o comum dos seres humanos, se virava.

Diferente do Homem Aranha, que era complexado e sofria bullying, ou do Super, que era um E.T., isso sim, ou do Capitão América, um traumatizado de guerra, ou do Batman, um perturbado mental, ou do Homem de Ferro…

Etc, essa corja não acabava, nenhum era normal, nem quando era ser humano comum, muito menos quando era super-herói. O exemplo clássico é o Hulk, como poderiam chamar aquilo de herói?!?!?!?!?!?
Luca não era vítima de nada, nem de si mesmo, só o que ele queria era ter as coisas que o faziam feliz, e ser feliz.

Estudar o suficiente pra garantir um B, tá bom.

Fazer sua natação pra se manter em forma (hoje, ele como outros adolescentes, já ficavam com medo dos malefícios visíveis do sedentarismo, mesmo ainda na casa dos teen, igual a ele).
Comer muito hambúrguer e pizza, mas também as chatas saladas e verduras, pra ficar bem.
Estar sempre up de grana, no seu caso, graças aos pais, o que lhe garantia uma inserção social legal, e a visita super regular, reguladora, tranquilizadora e saudável às priminhas, que, no seu caso, não eram baratas (“não achei minha língua no lixo”, mina, ele costumava teorizar).
Etc e tal.

Por outro lado, que ele soubesse, nunca fora “picado de uma aranha”, aliás, não conhecia ninguém que o tivesse sido, ou caído num tanque de preparados químicos nocivos, ou exposto à radiação verde, tudo isso, nada disso, ele comia seus cachorros quentes e tomavas suas vitaminas, igual todo mundo, podia jurar que não era um mutante, mas…
Um belo dia acordou se sentindo diferente.
Ele estava no primeiro ano de Economia da UERJ, curso mal frequentado por meninas, mas sua instituição tinha uma coisa diferente: os andares eram todos ligados, e ele podia ir de um pra outro, o tempo todo, durante as aulas, que eram mesmo muito chatas e fáceis de compreender pra tirar nota depois. Ele sabia que não ia salvar a situação econômica do país mesmo, já que não poderiam salvar a do mundo, a entropia podia ser a maior furada na física, mas na dolorática (ciência da economia do dólar e do euro na era contemporânea) era batata. E, como já dizia o velho nobre mulato, “ao vencedor…”, você sabe!!

Pois então, não é que um dia ele voou.

Não era galinha, super-herói, et ou disco voador, mas voou, por acaso, sem querer, e ainda bem que o fez!!

Pois ele tinha ido ao décimo segundo andar da UERJ, e lá conhecera uma mulher que fazia Educação, que não era mais velha que ele, mas parecia uma senhora, uma rainha, uma maluca. Ela lhe deu papo. Seu nome era Ana.

Ela, muito ousada, quis logo testar sua vontade de falar com ela:

– Tá bom chatão do quinto andar, topo bater papo com você, mas… só se for lá – e apontou pra cima, sem ele saber ao que ela se referia. Queria pegar balão, dirigível, avião? Ele não acreditada que nenhum dos dois pudesse voar. Sem anteparos.

Mas então ela explicou, havia uma passagem pro teto da Universidade, ela conseguira abrir o cadeado, queria companhia pra explorar a transgressão.

– Vamos.

Lá em cima ela foi sensível aos seus argumentos, meramente a bobagem de topar subir ali, o que era proibido aos alunos, já a adocicara pra ele.

Que estava tonto, ela tão perfumada, tão quente, tão próxima e distante, tão tudo, ele ficou assustado com a paixão que vinha avassaladora como uma geleira gigante desabando dos polos pro mundo todo.

Na sua bebedeira de amor ele já nem via por onde andava, e tropeçou na borda do terraço, se projetou no ar.

Ouviu o grito dela e recebeu o vento no corpo todo.

Estava caindo!

Viu que não havia tempo nem disposição pra pensar qualquer coisa que prestasse, muito menos pra ver toda sua vida passar diante dos seus olhos.

Só que, antes que percebesse, ou pudesse entender, sentiu que estava planando. Não conseguia pensar no seu susto, mas, “intuitivamente”, digamos assim, ele tipo “sabia” o que fazer pra se elevar, planar, avançar, direcionar, aterrissar etc.

Desceu de pé e devagar do lado dela, igual aos filmes.

Ela olhava com olhos arregalados e boca aberta.

– Luca, então você é um super-homem!
– Nem eu sabia… estou confuso, Aninha… vem cá…
– Espera!!
– Que foi?
– Olha, vou te dar três testes. Se você passar, eu aceito três coisas. Você tem que comprar o pacote completo, agora. Você quer ser economista, mas eu já nasci econômica.
– Tudo bem. O que você me promete, se eu passar nas suas ridículas provas?
– 1 – Voo com você (que me leva no colo, claro; sempre quis fazer isso dos filmes); 2 – ajudo você a se dar super bem com seus poderes (vou empresariar seu dom, bom, eu sei do que você precisa); 3 – caso com você.
Ele riu.
– Hmmmm, você é rápida.
– Super-heróis gostam de velocidade, objetividade e honestidade, eu sei isso também.
– Tá bom. Quais os testes?
– Escalonados: entortar e desentortar aquela barra de ferro ali, arrumar briga com um bando enorme de gorilas leite de rosa (pit bichas de luxo, filhinhos) e mudar a coisa que eu mais odeio nesse mundo.
– E o que seria?
– O desfile das escolas de samba do carnaval.
– Por quê? Pra quê? Como? Como alguém pode fazer isso?
– Ana lhe dá uma dupla resposta, rapaz: dá seu jeito, que eu te ensino.

Ele conseguiu mole mole torcer e distorcer a barra, só de sarro transformou ela numa rama trançada com outro barra, e deixou assim; surrou um bando de bad boys que faziam faixa dan e o diabo a quatro de caratê kung fu e outros bichos, eles saíram gritando fino igual galinhas, chamando por mamãe!!

Mudar o carnaval foi mais difícil.

Ela simplesmente queria que ele acabasse pra sempre com aquela porcaria de desfile de samba (duas horas da mesma musiquinha de um minuto repetida sem parar, todas as músicas praticamente iguais, todos rebolando sem cessar igual possessos do excesso).

Ele deveria transformar dali pra sempre o desfile num grande festival de música eletrônica.

O sistema seria parecido: pobres trabalhariam o ano todo e fariam tudo; ricos, turistas e famosos apareceriam nos destaques da tv; as pessoas pagariam caro pra ficar sentadas dezenove horas em volta, ouvendo; as Escolas de Eletro entrariam uma por uma, e correriam pela Passarela do Eletro, na cidade do Raio dos Jaqueiros, por uma hora e pico, apertada, fantasiados igual a basbaques, rindo e “tecnando”, ao invés de brazucamente sambando.

Bom… Luca agora era um super herói.

Ele conseguiu fazer o que ela queria, e pra todo o sempre nosso querido Bruarjil teve no Carnaval o Maior Espetáculo do Mundo: o sensacional desfile das
Escolas de Eletro Music (com letras em inglês, porque soa melhor).

Ana ficou com Luca, e eles foram felizes para sempre.

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