Manifesto da reciclagem: por uma antiarte poética
A “antiarte” é um referencial de grande significação na história das vanguardas que instauraram, desde inícios do século XX, a renovação da “arte moderna”. Na atualidade, em pleno “pós-modernismo”, Luis Carlos de Morais Junior reinveste essa proposta de desconstrução dos cânones que impedem ao fenômeno estético, pelo compromisso com a forma pré-estabelecida, ser plena expressão.
Ao invés de uma total ruptura com o que emergiu de revolucionário no modernismo, assim a pós-modernidade é recuperação do que foi obnubilado pelos recobrimentos academicistas daqueles saudáveis impulsos. Entre a colagem “dadá” e o “neodadá” pop, a linguagem da produção estética se auto-radiografa para mostrar como é feita, não de regras de estilo, mas dos fragmentos de sentido coados pela pluralidade dos meios e práticas culturais em que transita a vida comum e se faz a história efetiva.
O engajamento é imediato e ativo. Se a “arte” seria a norma, a “antiarte” é insurgência. Doravante, é o canal de depuração dos direcionamentos discursivos para constituir-se a denúncia e a revelação na captação mostrada do que tem livre curso no cotidiano.
Proteu ou: A Arte das Transmutações
Escrevi Proteu ou: A arte das transmutações – Leituras, audições e visões da obra de Jorge Mautner, como dissertação de mestrado, que defendi em 1992.
Ao longo dos anos, todavia, eu sempre refundia o texto, a cada releitura dos livros e das músicas de Mautner, a cada lançamento novo que ele fazia, vinham-me novas iluminações sobre a sua arte e o seu pensamento, tão fundamentais para o nosso país e o mundo.
Veja bem, Jorge Mautner é muito mais que um cantor de música popular. Ele é um dos grandes pensadores do planeta, e a sua missão é ser a ligação, a devida valoração e a tradução de tantas faces da humanidade que aqui no Brasil se encontraram: a pré-histórica, a grega, a romana, a judaica, a medieval, a ibérica, a negra, a indígena… e muitas, muitas outras!
Carlos Castaneda e a Fresta entre os Mundos
Este estudo que aqui eu desenvolvo se faz na verdade como parte de um grande projeto de estudos culturais, desdobrado nos livros: O Olho do Ciclope, sobre a antropofagia das populações ameríndias brasileiras e a obra literária e filosófica de Oswald de Andrade; O Estudante do Coração, sobre os primórdios da nossa música popular brasileira, com Noel Rosa, e do nosso cinema, com Mário Peixoto, e alguns estudos mais; Proteu ou: A Arte das Transmutações, sobre a filosofia contracultura da literatura e da música de Jorge Mautner; Crisólogo – O Estudante de Poesia Caetano Veloso, sobre os desdobramentos da antropofagia dos povos ameríndios e da literatura de Oswald no tropicalismo; O Sol Nasceu pra Todos (A História Secreta do Samba), sobre o desenvolvimento da MPB e sua relação com a visão excêntrica do povo brasileiro mestiço.
O Olho do Ciclope
Foi motivo de muito estranhamento por parte tanto do público quanto da crítica o inusitado recurso empregado por Oswald de Andrade (a princípio, nos romances-invenções, mas veremos que a coisa vai muito além) da “prosa cinematográfica”: simultaneísmo, imagismo, cortes, montagens, closes, diferentes velocidades, dança imagística das palavras. É todo um “cinema transcendental” que faz de Oswald de Andrade um cineasta virtual, que, consciente disto, escreveu no Manifesto Antropófago: “Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros.”
O Estudante do Coração
Vamos falar sobre escritores ou simulacros, compositores e malandros, cineastas e cientistas do som e do sentido.
Não define uma teoria estética, mas propõe uma teoria estética.
E principalmente procura nos proporcionar o salto quântico, a cambalhota do pensamento, o choque cultural, a estética contra a estática, e energia empoçada nas certezas vis.
Falamos ainda de filosofia, para trazer o pensamento para a arte.