Jorge Benjor e a Alquimusic
Publicado originalmente no livro O Sol Nasceu pra Todos (A História Secreta do Samba), Rio de Janeiro, Litteris, 2011.
Luis Carlos de Morais Junior
A transmutação pareceria um absurdo para o homem primitivo, a não ser que fosse explicada como algo além de toda compreensão, que não estava na ordem natural das coisas. Hoje em dia, a ciência começa a aventar a hipótese da transmutação, o que é muito engraçado, pois é ela mesma ciência que nos diz que o Universo é quase todo constituído de átomos de hidrogênio, de peso atômico 1, com um próton e um elétron, e que todos os outros elementos, que são como que construtos de vários átomos de hidrogênio, vários prótons e vários elétrons, são formados a partir desse átomo simples, nas reações de fusão nuclear ou de supernovas que ocorrem nos sóis.
As reações ininterruptas de fusão nuclear que emitem todas as radiações de um astro e mantêm sua massa no quarto estado físico da matéria plasma produzem ininterruptamente átomos de hélio, peso atômico 2. Mas reações mais especiais, quando os sóis se formam ou quando explodem numa supernova, atingem graus ainda mais altos de temperatura e pressão, e fazem com que eles emitam uma cascata de radiações e de átomos mais pesados, todos os outros até o urânio, que são formados nessas explosões em tremendas reações de fusão de núcleos de hidrogênio.
O Universo inteiro é constituído de hidrogênio, sendo os sóis momentos no continuum tempo espaço mais densos da sua ocorrência, o mesmo acontecendo com os astros mais frios, planetas e outros, que também podem ser encarados como constituídos de vários constructos mais densos ainda e com numerosas montagens dos átomos de hidrogênio.
Nessa visão, que é puramente originada na química e na física atuais, os átomos não são mais aquilo que seu nome diz, mas sim construções de elétrons, que, por sua vez, são montagens de outras partículas, e que podem se combinar entre si de uma forma mais essencial, não só pelas ligações químicas, mas nas estruturas físicas que ultrapassam a sua definição na tabela periódica, isto é, a sua elementaridade.
Há três cantores compositores brasileiros muito especiais, que trabalham música como transmutação, ou mais de três. Com dois eu já trabalhei – Jorge Mautner e Caetano Veloso, que chama o samba de “o grande poder transformador” – sobre os quais escrevi.
E Jorge Ben, Jorge Benjor, Jorge Ben Jor, Jorge Duílio Lima Meneses. E o que há com ele de tão único? O fato de ele rezar, ler, cantar e laborar o tempo todo com a música ligada à poesia e à literatura, bem como à filosofia (e à alquimia). Jorge Ben só faz gol: cada novo trabalho é revelação verdadeira, cada música uma dádiva.
Apareceu cantando um samba que já não era mais samba, ou melhor, não era só samba, e sim um samba carregado de muitas outras coisas, que vinham de cima e vinham de baixo, que vinham da frente, de trás e dos lados, que vinham do passado e do futuro. Misturava samba, rock, funk, candomblé, música caipira e maracatu.
Sobre Jorge Ben, fala Gilberto Gil, neste depoimento em que ressalta a multiplicidade e a originariedade da sua rítmica africana que leva em conta as minúcias e maluquices delícias e delírios das músicas e batucadas das diversas e várias nações que influíram (música do oriental, indiana, muçulmana, africana) na memória coletiva musical do Brasil:
— A primeira vez que você tocou com Jorge Ben foi nas Semanas Afro-Brasileiras?
— Em público, foi a primeira vez. Foi um momento em que houve um reconhecimento de “parentesco”, uma constatação da matriz, digamos, de uma matriz única. Foi ali que se criou essa consciência. Nem tanto para mim ou para ele, que já sabíamos, mas em termos de um consenso de que Gil e Jorge têm coisas em comum. Daí surgiu o disco em que atuamos juntos. O nome dos dois orixás, Xangô e Ogum, colocados no disco, têm muito a ver com aquele encontro das Semanas Afro-Brasileiras no MAM, que ficou como um signo de identificação do nosso trabalho. Não se pode dizer que foi exatamente ali que se revelou isso ou aquilo, mas que foi um encontro revelador eu não tenho dúvida.
— Ali houve uma polarização do aspecto negro. E, dentro disso, como você vê a música do Jorge?
— Eu vejo a música do Jorge como a que mantém elementos mais nítidos da complexidade negra na formação da música brasileira. Modos musicais diferentes vieram para o Brasil através de várias nações africanas. Jorge assume o que veio do norte da África, o muçulmano, como elemento básico do seu trabalho. Ele não gosta de perder a perspectiva primitivista, não deixa de se ligar no jeje, ketu, iorubá. Mas ele tem um outro lado que inclui o moderno.
— Muita coisa assim de espírito de Rio de Janeiro, certo?
— Um Rio complexo, uma negritude carioca. Eu diria que a escola de samba, por exemplo, é uma coisa mais simplificada do que a música de Jorge Ben. Sua música é muito mais complexa em termos de integralidade negra, mais do que o chamado samba-enredo, que se estabeleceu como um clichê de escola de samba. Os elementos da música de Jorge são muito diversos e isso é bem descrito em “Zumbi”, quando ele fala das diversas nações, convocando Angola, Congo, como num discurso messiânico. Ele tem consciência de uma integralidade e sua complexidade decorre daí e vice-versa.
— Eu acho “Charles 45” um motivo bem carioca…
— É, ao mesmo tempo ele é um garoto carioca da atualidade de escola de samba. Mas o que o distingue dos outros sambistas é a consciência de uma complexidade negra, a manutenção na música de nítidas diferenciações de elementos. Assim, ele compõe baseado em vários ritmos especificamente negros, e compõe samba, mas diferente da maioria dos compositores de escola de samba, que produzem uma música cultivada na escola, um híbrido já todo pronto sem nenhuma das diferenciações elementares dos ritmos básicos. O Jorge consegue essa elementaridade e denomina as diversas escolas negras. /…/
— Essa aproximação com Jorge Ben lhe trouxe uma indicação de trabalho?
— É, Jorge Ben é para mim uma espécie de mestre. Eu tenho muitos mestres mas ele é um mestre em exercício, mais um pai talvez, à medida que existe muito dele nessa minha vontade de dar nitidez aos matizes das matrizes negras do meu trabalho. Isso aparece nos meus shows quando eu improviso. Um lado assim preto velho que está no meu mundo… minha vó, tias velhas, meu pai. Um vocabulário onde entram palavras nagôs, ditas com aquela guturalidade negra na voz. Fica assim como um reencontro com a minha formação mais primária /…/
A medicina desse ritmo africano e agora mundial é terapêutica e propedêutica, e Jorge Ben se conscientizou disso desde cedo, em vários níveis, tanto no mais comum, na alegria da beleza, da simpatia, de morar num país tropical, torcer pelo seu clube de futebol e amar a sua nega quanto nas expressões artísticas, culturais, científicas, e o encontro de Jorge com a alquimia , a grande iluminação mental (mas supermental para além de meramente racional) e ocidental (mas nascido no Oriente e no Médio Oriente, e de origem obscura) que trabalha junto com a magia do som e do ritmo (que seria sensual e apetitiva, mas é também supermental, e nasce em toda parte, é uma vibração como o som, “sonsual”, título de um LP de Jorge Ben ).
A receita de suingue de Jorge Ben Jor, em 2004, é composta de boa dose da alquimia que caracterizou alguns de seus discos mais cultuados, como A tábua de esmeralda (1974) e Solta o pavão (1975). A comparação com os trabalhos anteriores é do próprio compositor carioca, que há oito anos não passava por um estúdio para registrar novas canções.
— A alquimia é uma filosofia muito bonita que lancei em música quando ainda era um tema hermético. Nesse Reactivus amor est recupero um pouco desse espírito – explicou ele na sede de sua gravadora, a Universal.
Seria uma receita típica benjoriana, não fosse o detalhe da massa eletrônica que dá forma às 16 faixas. Influência do que andou ouvindo em turnês pela Europa e nos discos de hip-hop que o filho manda dos EUA, onde boa parte do álbum foi gravada.
— Estava apostando nesse disco há três anos. Queria fazer nessa onda que os músicos de hoje estão fazendo. Penso que eles alcançam o que eu queria quando comecei, então digo para eles continuarem nesse caminho. Só não usei esses recursos na minha época porque ainda não tinha tanta modernidade – afirma, citando como exemplo Max de Castro e Fred 04.
O curioso é que boa parte desses “músicos de hoje” o cultuam, inspiram-se no som do Jorge do passado, aquele anterior ao ”Jor”. Ele ri da situação aparentemente contraditória. E explica:
— Desde o meu primeiro disco (Samba esquema novo), quero estar na frente, fazer algo diferente. Se tentar voltar ao que era, não vou fazer tão bem, não seria natural.
Para os fãs, o que pode não soar muito natural, a princípio, é ouvir a voz de Jorge revestida por teclados e programações eletrônicas.
— É claro que sofro pressão por lançar um disco assim. Mas eu sempre fui criticado. A afinação do meu violão estava errada, a harmonia não tinha pé nem cabeça… era isso que diziam.
De qualquer modo, suas “letras urbanas e suburbanas”, como ele diz, estão variadas como sempre. Ele descreve “Mexe mexe” e “História do homem” como receitas alquimistas. Chora (literalmente) ao contar que criou Maria Helena e Chiquinho, quando viu a mãe porta-bandeira e o filho mestre-sala da Imperatriz fazerem as pazes no Sambódromo, depois de um ano brigados. Logo em seguida, sorri ao definir “Rei Pelé”, feita para o filme Pelé eterno, como um roteiro cinematográfico de três minutos. E se prepara para enfrentar o palco (no Rio, o show está agendado para outubro) – aí sim, com banda, “mas buscando a sonoridade do disco”.
— Vai ser como um trabalho cover. Mas sei que não adianta querer tocar as 16 novas, que vão pedir “Taj Mahal” e “Mas que nada”.
Esta última, seu primeiro sucesso, é ouvida em qualquer parte do globo. Recentemente, Jorge descobriu pela Internet que já há mais de 200 versões pelo mundo. Chegou a registrar num CD 40 gravações distintas, todas baixadas da web.
— Se não fico em cima, a editora nem me repassa o que é arrecadado com essas gravações mundo afora.
Jorge fica cabreiro com essa situação dos direitos autorais, mas feliz por saber que é importante para tanta gente. Diante de tanta variedade, bolou um plano: quer fazer uma grande festa em 2006, quando se completam 40 anos da gravação de “Mas que nada” feita por Sérgio Mendes, responsável pela internacionalização da música. A ideia é reunir todos os artistas que ajudaram a imortalizá-la.
— Teve de tudo: no passado, Ella Fitzgerald e Dizzy Gillespie. Outro dia, achei uma gravação da Costa do Marfim. Há uma outra com flauta de Pã, dos incas. Tem em funk, em salsa. Imagina juntar todo esse povo?
A mudança do nome de Jorge Ben para Jorge Ben Jor aconteceu em 1985, e deve-se à confusão internacional que se fazia com o nome do cantor George Benson, o que criava problemas de direitos autorais. Do mesmo ano é o LP Sonsual.
Jorge Ben Jor orienta muito de sua obra pela simbologia católica e sua hagiografia. Dois santos são comemorados no dia 23 de abril: São Jorge e Santo Adalberto. Jorge Ben Jor homenageia muito o seu homônimo .
O nome do santo, a sua imagem, a sua narrativa, e o seu dia e seu número servem de signo o tempo todo para a obra de Jorge Ben Jor, que utiliza a oração como base para a canção “Jorge da Capadócia”, gravada por Jorge no LP Solta o pavão (1975), por Caetano Veloso no disco Qualquer coisa, do mesmo ano, e Fernanda Abreu, nos CDs Sla 2 be sample, de 1992 e Raio X, 1997.
O LP da estreia do Jorge foi Samba esquema novo, que já começa com a faixa “Mas que nada”. “Balança pema” coloca os elementos do humor, do “Sambalanço”, da invenção linguística com sabor africano e do tropical à la Ben Jor, quer dizer, ele já nasceu pronto; os mesmos elementos estão no disco todo, desde o início.
Logo depois “Vem, morena, vem” e “Chove chuva”, genial na sua simplicidade ideogramática e instantânea, segundo observação de Jorge Mautner. “Uala uala-la” fala do samba diferente, como uma retomada de algo que estava na matriz do samba, e parece tão novo.
Do ano seguinte (o ano do golpe militar, que pareceu não atingir Jorge Ben Jor), é Sacundnm Ben samba. Mas é engraçada a insistência no escapismo, ou é convite ao prazer, que parece a necessidade de fugir da situação, e que ecoa a frequência com que Caetano Veloso, a partir de 1968, quatro anos depois, falaria e cantaria “eu vou”. Jorge fala “Vamos embora, ‘uáu’”, e, logo na próxima faixa, “Capoeira”, “Vamos embora camarada/Vamos sair dessa jogada”. Por outro lado, canta “Não desanima, João”, e ainda cria a figura deliciosa de “Nena Nana”.
Do mesmo ano é Ben é samba bom, que traz a genial “Bicho do mato”. A faixa “Guerreiro do rei” faz a fusão da mística com o racialismo constante no nosso autor. Em “Jorge well”, brinca muito a sério de cantar em inglês, e brinca que seu som é bossa nova. “O homem, que matou o homem que matou o homem mau” é narrativa com jeito de faroeste e apelo heroico, que iria inspirar coisas como “Faroeste caboclo”, de Renato Russo, e “Alexandre”, de Caetano, só que aqui a metáfora do faroeste serve para falar da realidade dos morros cariocas e do subúrbio brasileiro, de uma maneira especialmente engajada, pois o eu lírico não julga a população e os bandidos, como em “Charles, anjo 45”; ele se coloca como um dos homens guerreiros, ou como a voz do povo que o louva, o audaz.
O Bidu, silêncio no Brooklin, preservou-se a circularidade, iniciando com “Amor de carnaval”, que fala da efemeridade da festa e seus amores, e do eu que é “muito sentimental”, pedindo depois silêncio e calma no Brooklin, e alegria no Caiçaras. A última faixa do disco é “Simanda” (que inspirou Caetano na época e depois na música “Não enche”, do CD Livro, de 1997) e que retoma a melodia e o moody de “Amor de carnaval”, repetindo ainda o “muito sentimental” e o pedido de “Calma no Brooklin”. “Simanda” é absolutamente inaugural na poética brasileira, pois nunca antes um escritor, poeta ou compositor havia se referido com tal soltura a uma relação que não o interessava mais, sem machismo ou protecionismo no relacionamento com a mulher. “Nascimento de um príncipe africano” retoma “a tamba está tocando”, e comemora o filho do rei da tribo como um libertador, um herói guerreiro, quase messiânico, e para ele tocam os membros da tribo e “Está até chovendo/Mas é um bom sinal/É um futuro rei/Pra combater o mal”, de novo ainda a chuva como sinal de amor e alegria.
“A jovem samba” seria uma alternativa à bossa nova e à jovem-guarda, e depois ao tropicalismo. Para sorte nossa, não virou um movimento, ou quase, pois dele (Jorge) saíram dois brotos ou mais: o samba-rock, mais como o de Simoninha e Max de Castro (irmãos, filhos de Simonal, amigos e parceiros de Jairzinho, filho de Jair Rodrigues, amigos sócios na gravadora Trama e todos muito influenciados pelo quase pai Ben; Max de Castro faz o “samben” na câmara lenta cool; bom notar ainda a delícia do nome de Max de Castro que funde citações de Karl Marx e Fidel Castro), e o mais simplificado pagode, que insiste na tecla do “bom mulato” “sonsual” sem as outras harmonias da inteligência e grandeza, informação e liberdade de Jorge Ben Jor.
O pagode pode ser muito bom, quando mais bem elaborado, mas, nesse tipo de pagode “adolescente”, bem como no charme e no funk do Brasil, sente-se a influência melódica, harmônica, letrística e comportamental (nas ligações alquímicas dos sons e harmonias sofisticadas de Ben Jor, desde o início, quando já inspirava outros compositores na sua vertente “patropi” e, logo depois, com o aparecimento de Bebeto, que compõe e canta de maneira muito parecida com Jorge, todos querem o “samben”).
No início, parecia que os três se pareciam, Jorge Ben, Simonal e Jair Rodrigues, não tanto pelo estilo musical, mas pela etnia e pela alegria (se bem que a questão étnica seja sempre cultural, se bem que, no Brasil, as etnias sejam sempre claras, uma mistura, e chamamos branco ao que tem tanto de branco quanto de negro, e chamamos negro ao que tem tanto de negro quanto de branco). Depois foram se diferenciando, a sotisficação de Jorge sobressaiu. Mas o pior foi o atentado artístico e social que a esquerda política fez à carreira de Simonal, injusto, acusado de ser espião da ditadura, conforme nos contou Nelson Motta nas suas Noites tropicais. A obra informada e informadora de seus dois filhos, na ligação esboçada por seu pai com Jorge Ben, redime um pouco o peso para o Brasil que isso foi.
“Rosa, mas que nada” é sobre a desilusão amorosa e retoma “Mas que nada”; “Canção de uma fã” é uma homenagem muito bonita, pois todos os artistas populares vivem de seus fãs e de suas fãs, e volta e meia os esnobam. “Menina Gata Augusta” é fruto de uma parceria com Erasmo Carlos, e estreita os laços que ligam Jorge ao rock e Erasmo Carlos ao samba (Erasmo, roqueiro sambista, que gravou “De noite na cama”, de Caetano, e compôs e cantou a maviosa “Em frente ao coqueiro verde”, e, com Roberto, “Quero voltar”, a favor da anistia aos exilados políticos da ditadura militar, entre tantos sambas-rock). “Toda colorida” mostra a força da música, a crença do compositor na força da sua arte, pois “Quando deus ouvir a minha canção/Eu serei feliz por toda a vida/Pois ela será a minha eterna toda colorida”. Remete à faixa “Quase colorida (Verushka)” do LP anterior. E assim vai a obra de Jorge, retomando os temas e as melodias, regravando ou modificando, num procedimento serial.
“Frases” foi gravada por Caetano Veloso com o título “Olha o menino” no LP Bicho, de 1977. Caetano conta que o Bidu foi uma das suas grandes influências para criar o seu tropicalismo. É uma canção de simplicidade quase bíblica, de linda sabedoria, das matrizes africanas e versos orientais.
“Quanto mais te vejo amor/mais eu quero ver você”, no ritmo de dobrado, parece música de circo e de show, parece um samba puladinho, parece marchinha de carnaval, melhor astral, mais alta conscientização camuflada de coisa simples do povo, pois o é. Delícia o cantarolar do cantor entremeado com as palmas. “Eu vou andando”, desilusão amorosa, agora no masculino, com o verbo de movimento de novo conjugado, agora no singular, o que parece um contrasenso. Depois vem a emblemática “Sou da pesada”, em que Jorge Ben eleva o astral do malandro e do machão, do homem do povo que se garante, se vira e se arruma, com boa vontade e boa intenção. Isso no ritmo que ele chamou de penquelê, do candomblé, com atabaques e agogôs, misturados à sua guitarra, música do interior da base do Brasil e da África (e seja visto que esse afeto pela música sertaneja seja certo) (e ele aí já fala na língua do anjo):
Quem falou de mim na madrugada
Quem falou de mim não fala nada
Mas que nada
Eu sou da pesada
Meu lema é fé em Deus
E pé na tábua
/…/
Te te te re te te
Meu anjo, meu anjo, meu anjo
O LP Jorge Ben, de 1969, traz as antológicas “Criola”, “Domingas”, “Cadê Tereza”, Barbarella”, “País tropical”, “Take it easy, my brother Charles”, “Descobri que sou um anjo”, “Bebete vãobora”, “Quem foi que roubou a sopeira de porcelana chinesa que a vovó ganhou da baronesa?”, “Que pena”, “Charles, anjo 45”, e a crítica, que não é burra, se cala.
De 1970 é Força bruta, que inicia com “Oba, lá vem ela”, com o suingue de seu violão e uns apitos feitos como assovio com a ajuda das mãos, na foto de um dos quais, a realizar um deles, vemos o cantor na capa do LP. Caetano também fez isso, assovios-apitos, em “A grande borboleta”, no LP Bicho, sete anos depois, imitando o som de uma flauta ou instrumento de sopro indígena.
A propósito, um dos elementos que contribui para constituir a singularidade do som de Jorge Ben Jor é o seu violão “afinado errado”, quer dizer, sem seguir as notas tradicionais atribuídas a cada uma das seis cordas (mi lá ré sol si mi). Mesmo assim, o resultado dá certo, saem acordes “certos”, pois ele inventa novas posições que produzem acordes, mas com uma sonoridade nova, pois a sequência das notas é desigual à tradicional, a dinâmica é própria, e ele faz interferir elementos da harmonia africana, de forma sutil. O mesmo se dá quando eletrifica a guitarra.
Aliás, o violão de Jorge é um capítulo à parte: ninguém além do próprio Jorge e do Fritz (Trio Mocotó) consegue tocar o violão com a afinação de Jorge Ben. O motivo é que Jorge, vindo de uma família pobre, aprendeu a tocar violão com um método de banca de jornal e um violão de segunda mão, o que o obrigava a afinar o violão à sua maneira. Sem saber ele já estava inventando um estilo único, uma marca registrada, ao ponto de, ao primeiro acorde de uma canção sua, o ouvinte já identificar “essa batida é do Ben” .
“Zé Canjica” é outra melodia rica e aveludada, que retoma a linda linha da chuva, aqui com a dor de cotovelo do eu lírico. Aliás, este disco foi considerado o melhor do autor pela crítica até então, e muitos mesmo pensam que depois. Suas ricas harmonias e seu clima quente e frio, além da sofisticação das letras e melodias e harmonias se conjugam com a retorta das citações sutis, ricas.
“Eu vou compor um hino de amor para Domênica/em homenagem ao anjo e à maravilha que ela é”, canta em “Domênica domingava num domingo toda de branco”, voltando à imagem do “anjo”, que no “sou da pesada” ele pronunciara “anzo”, assim como em “por causa de você, menina” cantava “voshê”, e nas “frases” “há seis mil anos o homem vive feliz/fazendo guerras e asneiras/há seis mil anos Deus perde templo/fazendo flores e estrelas” (pronuncia “templos” por “tempos”, também em “Errare humanum est”, no LP A tábua de esmeralda, e “Pelé” da Turba philosophorum, há aí uma jogada simbólica).
Ben gosta de criar sua pronúncia própria, como o dengo de um menino ou namorado, de usar linguagem afetiva (em “Para que digladiar” “canta” a namorada: “Vamos dançar, meu amor?”) e falar como o povo simples, ou como negros que pronunciam o português misturado com a fon/ética africana.
Ele apresentra uma nova visão do marginalizado, que não precisa mais ser consolado como em “Charles, anjo 45” e “Take it easy, my brother Charles”, mas que agora fala na primeira pessoa, e se mostra autoconfiante e melhor resolvido, como realmente veio a acontecer com negros e mestiços e brancos das favelas: “eu me chamo Charles Junior/vai vai/eu também sou um anjo/vai vai/mas eu não quero ser o primeiro/vai vai/nem ser o melhor do que ninguém/vai vai/eu só quero viver em paz/vai vai/e ser tratado de igual para igual/vai vai/pois em troca do meu carinho e do meu amor/eu quero ser compreendido e considerado/vai vai/e se for possível também amado/…/pois eu já não sou não não/o que foram os meus irmãos não não/pois eu nasci de um ventre livre/vai vai/nasci de um ventre livre no século XX/vai vai/eu tenho fé e o amor e a fé/vai vai/no século XXI/…/e o mundo todo vai ouvir/vai vai/e o mundo todo vai saber/vai vai/que eu me chamo Charles Junior”. A música se inicia com uma bela introdução tocada em violoncelo, e depois cantada em coro, que volta depois da letra cantada a uma voz, pelo cantor.
“Pulo, pulo” parece brincadeira, canção infantil, e já explicita mais a relação alquímica, com sua imagem das flores, e do eu lírico que sempre encontra o equilíbrio nos seus movimentos, transformando os seus pulos em dança ou aproximação ao seu amor, sem cair.
Em “Apareceu Aparecida”, o som dos violeiros sertanejos se mistura ao samba, o que ele chama de “cumanche”, como dois “compadres” ou uma dupla caipira que fala entre os floreios das violas. “O telefone tocou novamente” repete o seu lamento “que pena”. “Mulher brasileira” homenageia de forma bonita as nossas musas. É muito legal quando o cantor pede aos intrumentistas: “por favor, cresçam para a mulher brasileira”, e eles fazem um crescendo no acompanhamento, ao mesmo tempo dando a ideia do erotismo masculino cujo órgão cresce ao amar, e da criança, que todos nós somos e que só pode crescer pelo alimento, carinho e criação da mulher. Quer dizer, o homem precisa se alimentar espiritual e fisicamente da mulher, que é sempre sua mãe, e o faz crescer. “Terezinha” brinca com o chamado de Chacrinha que, durante seus programas, assim chamava sua assistente de palco, irmã da cantora Rosemary. O cantor fez voz anasalada, que cita o apresentador, sempre experimentando sonoridades da fala humana e da dicção popular.
“Força bruta” já é prefácio da obra alquímica que se seguirá, o amor é uma força bruta; assim como se disse de D. H. Lawrence e outros (e Jô falou, no seu programa, do nosso Ben Jor), Jorge é uma força da natureza. Percussão criativa e energética, brincalhona, com suas batidas “distribuídas” como dança.
Negro é lindo, o LP de 1971, é sua versão do Black is beautiful, movimento forte na época, tropicalizado e antropofagizado por Jorge, aqui. Desse trabalho é constante “Rita Jeep”, homenagem a Rita Lee.
O disco que marca com clareza a posição mística e alquímica de Jorge Ben Jor, o início daquilo que ele rotula como “alquimusic”, é A tábua de esmeralda (1974), e que ele vai retomar depois explicitamente em Solta o pavão (1975). A canção “Errare humanum est”, que está no disco, tem seus versos assim:
tem uns dias que eu me levanto
procurando pensando e querendo saber
de onde provém o nosso impulso
o nosso impulso de sondar o espaço
a começar pela sombra sobre as estrelas
e de pensar que eram os deuses astronautas
errare humanum est
e que sozinho pode-se voar até a mais longínqua das estrelas
ou muito antes dos tempos por nós conhecidos
de outras galáxias chegaram os deuses
ou de um planeta de possibilidades impossíveis
e de pensar que não somos os primeiros seres terrestres
pois nós herdamos uma herança cósmica
errare humanum est
nem deuses nem astronautas?
eram os deuses astronautas?
No volume da tradução brasileira de Semeadura e cosmo, de Erich von Däniken, vemos, à página 144, a citação “errare humanum est” (atribuída pelo autor ao Sófocles de Antígona, e pelo editor ao Declamationi, de Sêneca, mas que, na verdade, encontra-se na Medeia, de Sêneca, ato 11, v. 500: “cuiuvis nominis est erare; nullium, … errare humanum est, perseverare autem diabolicus”), relativa à necessidade de uma atitude de humildade dos seres humanos quanto às aquisições de seu saber estabelecido, não sendo eles reféns da ciência ou da técnica, e à coragem de aceitar as novas teorias, mais a ousadia de levá-las a sério, mesmo que como hipóteses:
Errare humanum est diz a Antígone, de Sófocles (497-405 a.C.). Será tão difícil, tão vergonhoso, abandonar posições que se tornarão insustentáveis no dia de amanhã, o mais tardar?
Däniken se referiu ao debate que promoveu sobre a possibilidade de visitas pré-históricas de seres inteligentes de outros planetas, que teriam plantado uma civilização na Terra, inclusive com manipulação genética para produzir o que hoje chamamos Homo sapiens (outro disco de Jorge Ben). O autor suíço percorreu várias vezes o globo, visitando todos os continentes e a maioria dos países, inclusive o Brasil (onde encontrou o estupefaciante caos tropical das Sete Cidades no Piauí), amealhando provas entre inscrições e desenhos de astronaves e astronautas e materiais e construções inexplicáveis consoante a tecnologia atual, e que, no entanto, foram produzidos no que costumamos chamar de nossa pré-história. É nítida a influência da obra de Däniken (que inclui ainda os livros anteriores Eram os deuses astronautas? e De volta às estrelas) sobre esta canção de Jorge Ben Jor. Podemos ver que parte da letra foi construída a partir de uma lista de livros sobre o mesmo tema (alguns contra, outros a favor), inserida no final do volume, como propaganda da editora nacional:
Se onde provém o nosso impulso de sondar o espaço?
/…/
Sombras sobre as estrelas Peter Kolosimo
Eram os deuses astronautas? Erich von Däniken
De volta às estrelas Erich von Däniken
Antes dos tempos conhecidos Peter Kolosimo
Vieram os deuses de outras estrelas? Compilação de Ernst von Khuon
O planeta das possibilidades impossíveis Louis Pauwels e Jacques Bergier
Não somos os primeiros Andrew Tomas
Não é terrestre Peter Kolosimo
O planeta desconhecido Peter Kolosimo
Semeadura e cosmo Erich von Däniken
Nem deuses… nem astronautas… R. Fiebcaist
Louis Pauwels e Jacques Bergier são os mesmos autores de O despertar dos mágicos, que também influenciou a visão mística de Ben. No remake da canção, que é coisa que ele costuma fazer, “Occulatus abis” (lema que aparece na última ilustração do Mutus Liber, de Altus, 1677, “podes ver”), do LP Salve simpatia, de 1979, Jorge Ben remodelou o verso: “ou de um belo planeta de possibilidades maravilhosas”.
Nesta e em várias, muitas outras canções, Jorge Ben Jor se utiliza da técnica serial, refazendo versos, ou linhas melódicas, ou harmonias, ou tudo. Já li críticos de jornal considerando esses “remakes” ou “make it new” que Jorge Ben Jor faz de suas próprias canções como falta de criatividade de entressafra. Eles não entenderam nada. Faz parte da sua alquimia, da sua fase de multiplicação, fazer e refazer uma canção, obtendo sempre coisas novas, “coisas nossas”.
Neste LP, temos a “Tábua de esmeralda” (de Hermes Trismegistos, o texto básico da alquimia) musicada, e várias outras canções que aludem à arte, como “Os alquimistas estão chegando”, que abre o disco e traz uma adaptação do Decálogo, de Alberto Magno, aos alquimistas, que está em O tesouro dos alquimistas, de Jacques Sadoul, antes da apresentação do estudo da biografia e obra de alguns sopradores, alquimistas e adeptos, na busca de alguma prova genuína de transmutação. Ao ler o livro pela primeira vez, o leitor poderia estar expectante, pois os “alquimistas estavam chegando”. Esse decálogo é um sucinto e fortíssimo manual ético.
“A gravata florida de Paracelso”, na canção seguinte, “O homem da gravata florida”, interpreto como sendo uma visualização de kundalini desperta pela obra alquímica em seu fazer, mais do que pelo proceder do elixir ou sua ingestão: é o falar, o obrar e o transformar a si mesmo pelo pensar agenciado aos dois que faz das duas colunas, a da frente e a de trás, uma visão florida, que agrada e encanta, que pode transformar o homem comum, qualquer um: “até eu”, como diz o eu lírico.
Depois do já citado “Errare humanum est”, vemos e ouvimos “Menina mulher da pele preta”, yin, feminino, lunar, que faz pendent com “Zumbi”, yang, masculino, solar, do outro lado do disco, na conscientização da raça negra e sua afirmação. Estávamos na época do Black is beautiful, mas também é a fase da obra em negro, e assim haveria a descrição da obra no disco, a introdução, o homem, errar é humano, mas é preciso tentar (ou a alquimia vem do espaço, em todos os sentidos), depois a beleza do negro, da fase da primeira conquista, diante da qual o homem diz: “Eu vou torcer”, que é a próxima canção, torcer pela paz, pela harmonia e pelo amor (e seus desdobramentos ônticos, a obra de Santo Tomás de Aquino, o homem baixo, saturnino, o amigo que sofre do coração, o coração de Cristo, a taça do amor).
“Magnólia” é a obra em branco, o homem torce pela chegada dessa criança, da vida nova que surge do ventre da mulher (“numa nave espacial dourada/muita veloz feita de um metal miraculoso/com janelas de cristal/e forro de veludo rosa”), o útero, as janelas de cristal são os olhos, janelas da alma, mas também são o cristal como vida mineral, e a rosa como sua floração, outro símbolo da taça. Magnólia é a flor branca, é a pedra filosofal, é a grande criatura, três vezes grande como seu criador e mestre Hermes Trismegistos, é a delicadeza e a força do amor, a geração universal.
No lado 2 do LP, “Minha teimosia é uma arma pra te conquistar”, o amor do homem pela mulher dependendo da perseverança, a força da vontade de potência, mas também, e a obra musical é toda feita de duplos sentidos, é a teimosia necessária ao amoroso da Agricultura Celeste, que precisa persistir para conquistar a graça, “O ouro da milésima manhã”, título do livro do alquimista do século XX, Armand Barbault.
Há versos de sabor oriental nesta canção, que lembram o “Cântico dos cânticos”, de Salomão, e Rubáiyát, de Omar Kháyyám: “Mostra-me teu rosto/Fazei-me ouvir a tua voz”. Quando o eu lírico diz “Mulher graciosa alcança onda”, trata-se de uma das muitas misteriosas elocuções do autor; podemos lembrar o livro O piloto da onda viva, de Mathurin Eyquem du Martineau.
Jorge Ben sempre recorreu muito a línguas “ex-cêntricas”, como africanas, em “Zumbi” e outras canções, havia até um dicionário de iorubá de onde ele tirava palavras para colocar nas canções – “Chove chuva” é outro exemplo –, ou ameríndias, como na “Curumim chama cunhatã que eu vou contar (todo dia era dia de índio)”, do Bem-vinda amizade, o falar do malandro etc. Mas também buscou línguas clássicas, principalmente o latim, claro, tão caro à tradição hermética ocidental, nas citações que fez de livros alquímicos (por exemplo “Cantileñas de São Victor” e a Turba philosophorum, que se traduz por “assembleia dos filósofos”), e recorreu até a língua dos pássaros e dos anjos; essa presença da pluralidade linguística, a atitude multiculturalista, racialista, antibabélica faz lembrar também Jorge Mautner, espécie de irmão secreto de Jorge Ben Jor (com Mautner, Caetano Veloso fez um disco; já com Ben Jor, Gilberto Gil fez o seu! Vocês sabem, há essa ligação secreta, esse rebis, Cae/Gil, Ben/Mautner).
“Zumbi” é a obra vermelha, é quando se sabe que venceu, é o signo da vitória, “vocês vão ver quando Zumbi chegar”, pois ele, o homem negro, colheu flores brancas de algodão com mãos negras (as duas fases anteriores pelas quais o alquimista tem necessariamente que passar para chegar à realização, simbolizadas também pelo açúcar de um lado e o café de outro, e ao centro o ouro, “Ao centro senhores sentados”), homens brancos também sendo “colhidos por mãos negras”, isto é, o casamento alquímico do consciente com o inconsciente, as “Bodas do céu e do inferno”, poema de William Blake, o nagual temperado pelo tonal de que fala Carlos Castaneda, Tales of power, na tradução, Porta para o infinito.
A canção começa com a convocação das nações negras (como irá fazer com as nações amerindígenas brasileiras em “Curumim chama cunhatã que eu vou contar [todo dia era dia de índio]”):
Angola, Congo, Benguela,
Monjolo, Cabinda, Mina,
Kiloa, Rebolo,
Aqui onde estão os homens
Há um grande leilão
Dizem que nele há uma princesa à venda
Que veio junto com seus súditos
Acorrentados em carros de boi
Eu quero ver
Angola, Congo, Benguela,
Monjolo, Cabinda, Mina,
Kiloa, Rebolo,
Aqui onde estão os homens
Dum lado cana-de-açúcar
Do outro lado cafezal
Ao centro senhores sentados
Vendo a colheita do algodão branco
Sendo colhidos por mãos negras
Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver
Quando Zumbi chegar
O que vai acontecer
Zumbi é senhor das guerras
É senhor das demandas bis
Quando Zumbi chega
É Zumbi é quem manda
Eu quero ver
Angola, Congo, Benguela,
Monjolo, Cabinda, Mina,
Kiloa, Rebolo
“Brother”, racial também, fala em Jesus Cristo, é a consciência planetária da irmandade cósmica, é a iluminação crística, por isso está em inglês, para o máximo de pessoas compreenderem como os evangelhos foram feitos em grego koiné, comum, que era a língua franca da época.
Depois “O namorado da viúva” fala da multiplicação, é a riqueza que se potencializa, os rios que correm pro mar, aquele que tem lhe será dado segundo as palavras de Jesus (Mt 25, 29), é a insegurança do homem quando ele busca casar com o princípio feminino em si mesmo e no seu cosmos, a viúva do homem que morreu e renasce, agora rebis, o duplo de si mesmo, o andrógino primordial que foi separado pela criação e pelo nascimento e que foi cindido pelo processo do aprendizado e agora renasce e é o ser completo redondo renascido (o ovo dos dogons, a aura dos índios, o casulo de Castaneda, o homem no círculo de Leonardo, “eu sou redondo, redondo” de Oswald de Andrade, CsO de Deleuze e Guattari, o Anti-édipo e Mille plateaux).
“Hermes Trismegisto e sua celeste tábua de esmeralda” traz o tratado fundamental da arte ciência filosofia da alquimia ou biologia primeira e cosmologia, que é, ao mesmo tempo, um resumo da obra longa que o disco analisa nos análogos e também é o estudo inicial, o que se precisa saber para se lançar na obra, o tratado alquímico que contém e no qual todos os outros são contidos. Jorge Ben canta com uma deliciosa e inédita mistura de samba e blues.
“Cinco minutos” é a alusão à via do fogo, via rápida, que explode em iluminação ou em pólvora, bomba, mas a extrema perícia do artista produz a realização, a chegada à presença real, do ser, do sol, do iluminado, “você não sabe como eu fiquei”.
O disco Bem-vinda amizade é de 1981. Na capa, vemos o cantor com seu cachorro um lindo husky siberiano branco, ao lado, como uma referência à amizade, à beleza e à harmonia – é uma ironia racial, Jorge todo vestido de branco, com seu cachorro, seu amigo, o humano e o animal, que ele abraça e sorri na foto da contracapa. Ao mesmo tempo, as ilações alquímicas.
O trabalho se inicia com o samba-enredo “O dia em que o Sol declarou o seu amor pela Terra”, canção especialmente significativa para a conscientização planetária, para uma ideia de integração cósmica, quer dizer, Oroboros, tudo se liga porque tudo está ligado, por todos os lados, pois tudo é parte de um, “én to pan”, como pensam e praticam na sua gaia ciência os alquimistas, no meio de cujas fileiras se perfila nosso poeta-cantor-compositor-músico (todo alquimista o é, de alguma forma):
Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos da Simpatia pede licença e pede passagem para mostrar seu novo samba enredo:
O dia em que o Sol declarou o seu amor pela Terra! = falado
Terra Terra Terra Amor
Terra Terra Terra Amor
Eu sou o sol Refrão bis = rebis
Eu sou o sol
Sou eu que brilho
Pra você meu amor
Eu sou o sol
Eu sou o astro-rei
A maravilha cósmica
Que Deus fez
Por isso eu lhe dou de presente
Todo o meu calor
Com muito amor
Vim lhe dizer
(Refrão)
Não fique zangada
Quando eu esquento a lua
Nos dias em que ela
Fica minguada
Pois ela dizendo
Que sente ciúmes de você
Não quer se enfeitar
E nem aparecer
Mas quando eu dou
O meu calor pra ela
Ela fica nova
Cheia de vida e toda prosa
Começa a brilhar
E a aparecer
E dizer que eu sou
Eu sou o sol
(Refrão)
Cisca
Comissão de frente
Atenção
Escola de samba passando
Bateria arrepiando
Porta-bandeira e mestre-sala
Atenção
Olha a televisão a cores
Ala de empolgação dizendo no pé
Cuidado com a alegoria cuidado
Vamos passar em frente aos juízes
Atenção
Ala das baianas com amor e coração
Agora
Dizendo no pé
Eu quero ver
Eu sou o sol
A claridade do sol ilumina a vida e é a via do amor, o amor visível e real que alimenta todos os seres vivos, como na canção “Mil e uma noites de Bagdá”, de Jorge Mautner e Nelson Jacobina (no LP do mesmo nome).
O amor divino que alimenta e ilumina é para todos os irmãos cósmicos.
Inspirado por ele, Jorge Ben Jor pediu a iluminação de Santa Clara, a quem Caetano Veloso também homenageou no LP Circuladô, que é a padroeira da luz visível e da luz espiritual que alimenta e sustenta (segundo alguns, servindo mesmo de alimento exclusivo e suficiente), e também é padroeira da televisão (a visão ao longe, que tanto pode ser tecnológica como mística).
Hora de Santa Clara
Santa Clara clareou
E aqui quando chegar
Vai clarear
Os meus caminhos
Os meus caminhos
Salve Santa Clara
De manhã bem cedinho
Com o despertar alegre
Do canto dos passarinhos
Bonito como deus gosta
O sol nasceu
Para a vida e o amor
Vem enxugando o sereno
Com seus raios solares
Cheio de esplendor
Com toda a beleza celestial
Em homenagem a Santa Clara
Santa Clara
A outra canção que ressalta neste CD é “Curumim chama cunhatã que eu vou contar (todo dia era dia de índio)”:
Jês, Cariris, Carajás, Tucanos, Caraíbas,
Bangos, Iambiquaras, Tupis, Bororos,
Guaranis, Caiouá, Iandeva,
Demibruia, Ianomâmi, Uaurá,
Iaiamaiúra, Iaualapiti, Fuiá,
Txikai, Txucarramãe, Xocrin, Xicrin,
Krahó, Rancocamecra, Suiá
Curumim chama cunhatã que eu vou contar
A chamada das tribos lembra aquela que faz em “Zumbi”, de vários povos da África, e tem o sabor de algo épico, uma conclamação, uma grandeza humana: nos dois casos.
Uma hora lá ele fala das principais características da biopolítica e da ética do índio:
Amantes da pureza e da natureza
Eles são de verdade incapazes
De maltratarem as fêmeas
Ou de poluir o rio, o céu e o mar
Protegendo o equilíbrio ecológico
Da terra, fauna e flora, pois na sua história
O índio é o exemplo mais puro
Mais perfeito mais belo
Junto da harmonia da fraternidade
E da alegria, da alegria de viver
Da alegria de amar
Esta obra, além de ser um protesto contra a guerra que a sociedade ocidental fez aos silvícolas americanos, é também um receituário ético (Jorge Ben Jor gosta de citar o lema de Basílio Valentim, cujo anagrama é VITRIOLUM: Visita Interiora Terræ Rectificando Invenies Occultum Lapidem Veram Medicinam – visita o interior da Terra e pela purificação encontrarás a Pedra Secreta que é o verdadeiro remédio) da panaceia que os alquimistas encontraram e que os aborígenes também tinham encontrado, que é o remédio universal (Pharmacus catolicus) para a Terra, o ser que nos envolve e do qual fazemos parte todos nós.
Pois a gente sabe.
O Sol nasceu pra todos.
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