Entrevista com Luiz Carlos Maciel – parte 9
LCM: Olha, todas as explicações sobre a realidade, seja do budismo, do taoísmo, do Capra, seja dos pensadores ocidentais bem como dos pensadores orientais, pra mim é tudo metáfora. É tudo maneiras de ver, e não existe, entre todas as diferentes maneiras de ver, nenhum núcleo central definido, que você possa dizer: “Eu cheguei no núcleo central”. Não é da natureza da realidade. A natureza da realidade é não ter núcleo central.
D: Essa inteligência é que eu considero uma das grandes coisas que o século XX trouxe. É você permitir as pessoas parar com essa loucura de achar que você tem a verdade e que todos os outros são idiotas.
LCMJ: Mas isso é uma aspiração.
LCM: E isso é uma percepção que depende de um certo nível de expansão da consciência. Da minha experiência toda com a contracultura, os ácidos que eu tomei, tudo o que eu vivi, pensei, passei, e tudo mais, o que eu trouxe de tudo isso é a minha visão, a minha consciência, disso, por exemplo. Que não adianta correr atrás desse núcleo objetal porque não há. E o processo é um processo livre, também. E se de repente a água não é mais H2O.
LCMJ: Ah, não é livre prà pessoa, é livre pra tudo!
LCM: Tudo! E se você resolve que pode voar. Sai voando.
CC: A ideia de um fluxo contínuo.
LCM: Não há nada que impeça que essas coisas possam acontecer, possam se dar. Depende da liberdade da consciência.
D: Eu acho que eu vou sair voando agora. (Risos)
LCMJ: Luiz Carlos, e a questão do aprendizado com os sonhos, não só no Castaneda, mas existem os cientistas, Stephen LeBerge que pesquisa sonhos lúcidos, sobre essa questão dos sonhos, usados não psicanalisticamente, mas atuar nos sonhos.
D: Eu tenho um amigo que falou pra eu fazer isso.
LCM: Eu acho que é uma outra maneira da consciência se alterar. Eu tive pelo menos um sonho que eu me lembro bem que foi um sonho lúcido. Eu sabia que tava sonhando. Eu fazia como o Castaneda, eu olhava as mãos.
LCMJ: Você fazia?
LCM: Eu cansei de fazer isso. Eu conheci até o Castaneda. Mas eu me lembro de uma das vezes, num sonho lúcido, em que eu conheci o Castaneda, que eu tive uma certeza absoluta que aquela realidade em que eu estava, que era a segunda atenção, era mais real do que quando eu estava acordado. Isso ficou claríssimo pra mim. (Um objeto cai e faz barulho.) Isso foi a primeira atenção chamando, ela se sentiu sacaneada. Estando aqui e agora, lembrando desse tempo, eu não acho que seja mais real lá ou mais real aqui.
LCMJ: Quando você tava lá era mais real. Quando você tava lá. Segundo o Castaneda a pessoa pode até morrer num lugar desses. Tudo pode acontecer.
CC: Tem o conto oriental que o sábio sonhou que era uma borboleta, e depois não sabia se era um homem que sonhou que era uma borboleta ou uma borboleta que sonhou que era um homem.
LCMJ: Luiz, quando o Castaneda morreu ou mudou de atenção você viu a foto que foi divulgada na imprensa do cara gorducho de óculos, que dizem que não é ele?
LCM: O Castaneda não era gorducho de óculos, ele era baixo, moreno, atarracado.
LCMJ: Você tem uma imagem dele?
LCM: Eu sonhei com ele.
LCMJ: Porque depois na internet eu vi dele, inclusive fotos dele velho.
LCM: Eu não acredito na internet. Na internet vale tudo, eu pego a fotografia do meu avô e falo que é Castaneda.
LCMJ: E Alquimia, você tem algum percurso de leitura?
LCM: Eu li alguma coisa, mas não.
LCMJ: E como é ser casado com uma atriz sex symbol da Globo? (Gargalhadas)
CC: Agora nós vamos cair na baixaria!
LCM: Revista Contigo!
LCMJ: É que eu quero perguntar um pouco sobre o percurso biográfico dele.
CC: Não, eu tô brincando, não tem censura nenhuma.
LCMJ: Como foi ser casado com uma atriz sex symbol da época?
LCM: Eu sempre gostei de mulher bonita, e essa aí, além de bonita, teve a sua magia o seu feitiço de me enredar com ela, e eu tô enredado até hoje.
D: Eu acho tão engraçado isso, os homens são sempre passivos nessa história. (Risos) “Ela me enredou”…
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