Entrevista com Luiz Carlos Maciel – parte 8

LCMJ: Um brilho total, que está no Herman Hesse, no Sidarta.
CC: Vou ser um pouco provocativo neste momento, em relação a isso. Até que ponto isso não seria, brincando de ser freudiano, mas só brincando pra estabelecer um diálogo mesmo, até que ponto não existiria nisso um certo desejo regressivo? Até que ponto a angústia é algo inerente ao ser e até que ponto você buscar o nirvana não é uma tentativa de retorno ao cômodo útero? Até que ponto isso é um desejo de morte?
D: Até que ponto a angústia ocidental é essencial?
LCM: Isso depende de como você interpreta o nirvana. O nirvana é frequentemente interpretado, como nada se pode dizer do nirvana, então ele é um vazio, ou sunyata, nirvana vem do sunyata, plenamente, suny é um vazio, mas essa decisão budista desse significado é uma decisão em relação a uma impossibilidade conceitual, o sunyata é vazio porque não há conceitos que possam nomear.
LCMJ: Não é que ele realmente seja vazio, é vazio pra nossa mente atual, que não pode alcançar.
D: É vazio pro nosso cheio.
LCM: Então aí ele é equiparado com a morte, o aniquilamento, o nada, o desejo de chegar ao nada. Mas isso é uma interpretação freudiana do nirvana.
D: Eu diria assim criticando Freud, que não conseguiu enxergar a mulher como um outro ser mas como um não-homem, mesmo numa sociedade onde meia dúzia chegam ao nirvana você tem um monte de confusões ali que têm que ser resolvidas. O acesso de todos ao nirvana é uma questão muito séria, porque eu acho que nenhuma sociedade chegou perto de abrir realmente pra todas classes sociais, homens, mulheres, eu acho que esse caminho pro paraíso é cheio de conflitos e de brigas.
LCM: Agora você vê, mas esses caminhos, que são caminhos que são apontados para o indivíduo, segundo os caras que melhor conhecem isso, independem de obstáculos sociais ou mundanos, de uma certa maneira. Isso é uma coisa que é uma responsabilidade individual e que está ao acesso de qualquer indivíduo.
D: Embora o treinamento pràs mulheres não fosse uma coisa tão aberta.
LCM: Sim, quando se institucionaliza, quando se institucionaliza aí pronto, vêm logo os que são discriminados pela instituição, e as instituições religiosas tradicionalmente discriminaram a mulher. Eu estava me lembrando de uma passagem do Castaneda em que ele está com Don Juan num restaurante que tem mesinha na calçada, em México City, e eles estão observando um bando de meninos de rua que ficam paquerando, esperando que os fregueses se levantem das mesas, aí eles atacam as mesas, o que deixaram na mesa eles apanhavam. Apanhavam até o limão que tava dentro da xícara de chá, claro, o limão é vitamina C. Os garotos tão aproveitando tudo. Aí o Castaneda comenta isso, esses meninos coitados estão fudidos, estão perdidos. Aí o Don Juan diz pra ele: “Olha, qualquer um deles tem mais chance de se tornar um homem de conhecimento do que você”. (Risos) Não ia ser a condição de classe média, de um antropólogo que estava ali fazendo a sua tese de mestrado, depois a sua tese de doutorado…
D: Que vai fazer você passar no buraco da agulha.
LCM: É.
LCMJ: A gente tá botando isso como buraco da agulha e tal, mas o próprio Castaneda fala que assim como a tendência do ovo que foi galado é quebrar e nascer o pinto, nós somos um ovo luminoso cuja tendência natural é quebrar e nascer o pinto, que dizer, é expandir. Só que essa expansão não é feita até por um condicionamento social, o que a gente considera ou como as nossas lutas verdadeiras sociais e tal, seriam distrações pra essa evolução que seria natural. Natural é complicado de dizer, mas digamos, seria uma tendência energética. O que você pensa sobre a hipótese dos flyers, dos voadores? Porque segundo Castaneda o grande desafio da humanidade seria se livrar deles, porque eles se alimentam da nossa energia, vampirizam a nossa energia. Isso depende de ver.
LCM: São os aliados.
LCMJ: Mas são os aliados maus, que sugam a nossa energia.
D: Depende da relação sado-masoquista também.
LCMJ: Segundo ele, a humanidade tem uma mente instalada, que leva a humanidade a ser tão inteligente e tão estúpida ao mesmo tempo. Essa instalação forânea, alienígena que se alimenta da gente.
LCM: Sobre os seres inorgânicos, eu acredito que eles têm um modo de existência.
CC: Posso perguntar isso de outra forma? Você falou que você é do signo de peixes. Essa coisa de salvação, ou nirvana, é individual. Você acredita naquela coisa do Capra, da hipótese de Gaia que diz que a Terra é uma grande consciência, ou que pode vir a ser, e que essa coisa do Luís Carlos, da Dandara, do Cláudio, é muito mais esgarçada do que a solução individual?

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