Entrevista com Luiz Carlos Maciel – parte 6

D: Como o Santo Daime.
LCM: Como o Santo Daime, o Mundo Vegetal que usam o ayahuasca. Também o aiuasca é considerado uma droga sagrada. E o acesso às realidade mais profundas é através do aiuasca. No Castaneda não é assim. Então, quando ele cessa de falar de drogas, a certa altura, no segundo ou no terceiro livro, ele não fala mais de drogas. Isso só aparece no começo do aprendizado. Porque era uma maneira de quebrar a resistência. Isso é uma coisa positiva que certas drogas possuem, não são todas as drogas. São as chamadas drogas alucinógenas, ou como o psicólogo Thimoty Leary inventou o termo, psicodélicas, que são expansoras da psique, da consciência. Então não se pode dizer que cocaína, ou heroína, ou ekstasy ou crack sejam expansores de consciência.
LCMJ: Muito pelo contrário. E a maconha?
CC: Vai bem, obrigado.
LCM: A maconha é um refresco.
D: Depende do uso, é, quando você coloca a droga como um fim em si mesma…
LCM: É claro, qualquer coisa que você ache que é a solução da sua vida, pronto, você…
D: Pode ser o amor, pode ser o dinheiro.
LCM: Fica maconheiro, fica tomando aspirina, ou sonífero. Essa é uma questão que está muito presente. Se diz assim: olha só, a contracultura foi adotar as drogas, olha a merda que deu. A merda que deu não foi culpa da contracultura, foi culpa do sistema. A contracultura reivindicou a possibilidade, a liberdade do indivíduo poder usar essas drogas sem ser indiciado criminalmente, sem ser considerado um criminoso, só porque está tomando droga, o que é um absurdo, porque tomar droga não faz mal pra ninguém, a não ser pra você mesmo. Você não tá prejudicando ninguém, pó! Então isso já é uma besteira. Mas a contracultura mostrou qual era a maneira de tirar a droga do âmbito do crime, que é muito simples.
CC: É legalizar.
LCM: Como a sociedade não quis seguir o conselho sensato da contracultura, que era legalizar as drogas, ela criou o que nós estamos vendo. Naturalmente o crime organizado foi criado pelo aumento do mercado para as drogas. Aumentou muito o número de pessoas passou a consumir drogas então houve um volume muito maior de dinheiro. Agora, o grande obstáculo pra resolver isso é o fato de ser proibida. Como diz Thimoty Leary, as drogas são proibidas porque assim dão mais dinheiro a mais gente. Então, tem muita gente ganhando dinheiro com esse comércio, e quer que o comércio permaneça ilegal. O terrorismo etc. “Oh! que horror! Imagina, legalizar as drogas, aí toda a população vai se drogar, vai sair pelas ruas!”
LCMJ: Inclusive porque há drogas legalizadas, como o álcool…
LCM: Tem gente que cai de bêbado na rua, mas não é todo mundo. Um só que cai de bêbado. Agora, a experiência da Holanda, ninguém gosta de comentar. Não aconteceu nada. Tudo folclore. Não tem crime organizado na Holanda, porque não precisa ter tráfico ilegal de drogas. É controlado pelo estado, que vende a droga.
D: Tem os suicidas depressivos, mas isso tem em qualquer lugar.
LCM: Sim, por qualquer coisa.
D: Do jeito que está se falando, me parece que nesse momento em que surge o fenômeno da contracultura, é como se começasse um tipo de investigação filosófica ou de movimento filosófico da interdisciplinaridade ou da co-disciplinaridade, quer dizer, um tipo de pensamento que investiga diversos padrões e ideias de diversas culturas e não mais se deixa cercear nos limites técnicos ou geográficos ou de classe social. Me parece que essa semente vai além daquele produto histórico limitado e começa a formar uma série de pensadores que vão buscar pegando de diversas partes do mundo e de diversas disciplinas pra tentar entender e se posicionar. Será se isso faz sentido, uma tentativa de…
LCM: Sim, faz todo o sentido. Tanto é que historicamente, você sabe que contracultura veio primeiro. O florescimento de vários movimentos libertários que caracterizaram a segunda metade do século XX, como o movimento das mulheres, o movimento dos negros, o movimento dos homossexuais, ecologia… tudo isso veio a partir da contracultura. Então, foi um processo que teve, e esse processo continuou. Agora, existencialismo, é um produto histórico, lá dos anos 40, da Europa. Contracultura? Também é um produto, dos anos 60, 70, também é um produto histórico. Agora, claro que tudo delicado, tudo tem uma relação, faz parte de um processo.

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