Entrevista com Luiz Carlos Maciel – parte 5
LCMJ: Ou ele estava fazendo espreita? Tem mil historinhas assim, porque a ordem de fazer espreita é sempre de ludibriar, nunca ter uma identidade.
D: O que é uma típica malícia congo.
LCMJ: E o negócio da Carol Tiggs?
LCM: Aí a Carol Tiggs, quando ela dominou o Castaneda, com a ajuda das outras duas bruxinhas, a Taisha e a Florinda, aí então ela proibiu o Castaneda de continuar sua amizade com o Lee. Você veja que, depois da morte do Castaneda…
LCMJ: O Castaneda morreu? Ou entrou em terceira atenção?
LCM: Morreu ou está na segunda atenção com seres inorgânicos.
LCMJ: Na terceira atenção você acha que ele não entrou?
LCM: Não, absolutamente.
LCMJ: Que ele fracassou?
LCM: Ele fracassou. Segundo Lee ele está preso na segunda atenção como escravo dos seres inorgânicos.
LCMJ: Desde o início Don Juan acusa ele de ter uma relação mais parecida com a dos antigos videntes com os seres inorgânicos, algo mais perverso, mais pervertido, que não permitiria a libertação.
LCM: Eu não sei se foi isso. A própria tensegridade diz que se você não pode entrar na terceira atenção, você pode ir pra segunda atenção ficar com nossos amigos seres inorgânicos.
LCMJ: Isso tá no livro da tensegridade. Os Passes Mágicos. Mudou totalmente. Isso pro Don Juan, nos livros iniciais, era a pior coisa, que ele criticava, aqueles videntes antigos, que viraram como árvores, e ficaram milhares de anos.
LCM: Isso que segundo o Lee teria acontecido com o Castaneda. O Lee me disse assim: “Se as bruxas tivessem deixado ele me encontrar ele não teria morrido, tava vivo até hoje. Porque eu cuidava dele e botava ele bom. Mas elas não deixaram porque queriam que ele fosse pra apanhar a consciência dele na segunda atenção.”
LCMJ: No livro da Florinda ela se coloca como mocinha aprendiz de Don Juan, ela teria conhecido Don Juan em 68 mais ou menos.
LCM: Não, mas ela não é desse grupo. A Carol Tiggs é que é um ser inorgânico, e conseguiu… A Taisha também não é…
D: Lá essas coisas.
LCMJ: A Travessia das Feiticeiras conta o aprendizado da Taisha.
LCM: Foram as duas que escreveram livros.
LCMJ: Você conheceu a Ana Catan?
LCM: Conheci.
LCMJ: Ela foi realmente discípula do Castaneda?
LCM: Duvide-o-dó!
LCMJ: Mas no seu prefácio você admite como muito possível isso.
LCM: Sim. Eu fui amigo dela, ela me pediu o prefácio. Sei lá, pode ter sido tudo uma coisa de segunda atenção.
D: Você acha que no momento, não havendo mais guerra do Vietnã nem ditadura, o que era a contracultura vai por aí, investigar os limites da realidade e da expansão pessoal ou simplesmente deixou de existir?
LCM: Aquela forma de contracultura, aquilo foi um produto histórico determinado. O que era o objetivo? A liberdade. O objetivo é o reino da liberdade. Esse que é o grande objetivo que as mentes mais luminosas do século XX vislumbraram claramente. A essência do ser humano é a liberdade. Isso vai permanecer pra sempre. Isso aí não tem recuo de alienação, de estupidez que possa impedir essa coisa florescer.
D: De certa forma aquele impulso ele leva a um tipo de investigação metafísica e existencial permanente.
LCM: Sim, há essa busca, ele está indagando o seu lugar no mistério do ser. A gente busca lançar luz sobre isso com a conquista de uma liberdade cada vez maior.
CC: No caso do Castaneda e de certas experiências tinha uma ligação de expansão de consciência que não era só necessariamente tai chi ou posturas, tinha um aditivo da droga que você utilizava pra atingir essa consciência expandida. Aí a gente vê hoje a droga transformada num gigantesco business. A minha pergunta é: como é que você vê, qual o lugar da droga naquele momento e qual o lugar da droga hoje?
LCM: No Castaneda a droga nunca foi uma via de acesso a uma consciência expandida. Nunca foi. Isso é muito bem explicado e reiterado até. A droga era um meio de desmanchar a prisão da primeira atenção naquele cara em particular que era o Carlito. Então, o Don Juan conhecia aquelas plantas de poder, como ele chamava, e usava pra quebrar o condicionamento mental do Castaneda. A conquista da consciência, a expansão da consciência, no Don Juan e no Castaneda, não é um resultado da ingestão de drogas. Ao contrário do que acontece por exemplo na Igreja Nativista Americana, é, porque eles fazem o culto do peiote. O peiote é uma droga sagrada que possibilita…
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