Entrevista com Luiz Carlos Maciel – parte 3
LCMJ: Foi um tremendo movimento, os estudantes tomaram o poder.
LCM: Foi dos estudantes contra a universidade, contra o autoritarismo.
CC: Você tá falando de maio de 68.
LCM: É.
LCMJ: Mas eles tomam o poder na França, por um momento.
LCM: É, por algumas horas.
LCMJ: Mas é incrível isso, é interessante.
LCM: É uma coisa muito marcante, porque depois todo ambiente cultural francês depois de maio de 68 foi marcado por 68.
LCMJ: Os pensadores da filosofia e da sociedade, são marcados contra ou a favor, mas eles não são inócuos a isso. Agora, a questão da expansão da consciência, porque a coisa começa de certa forma simples, o beatnik era a rejeição do stablishment e a aproximação com o negro e com a droga e tal, mas foi rápido pro budismo e depois pro nagualismo, pra coisa do índio, e veio Castaneda. E essa questão, porque você é talvez o maior especialista no Brasil em Castaneda.
LCM: Meio-especialista.
LCMJ: Você deu cursos sobre Castaneda.
LCM: Eu dou qualquer curso, basta que as pessoas me paguem. Basta ter grana nisso, eu dou o curso.
LCMJ: Mas, de qualquer forma, no Brasil, você foi um dos poucos, que teve uma recepção quase que imediata, e positiva, em relação ao Castaneda, o que é difícil os intelectuais terem. Há muito preconceito. Como é que você vê isso, essa questão da expansão da consciência como uma proposta real instrumentalizada pela obra do Castaneda?
LCM: Os intelectuais num primeiro momento eles receberam melhor o Castaneda, até o quarto livro. E quando ficou num nível assim, parecendo…
LCMJ: Parecendo um documento de antropologia.
LCM: Não, parecendo a relação do Don Juan com o discípulo, meio psicanalista e psicanalizado, só os dois ali.
D: Hm… (Risos)
LCM: Aí então, isso aí foi aceito. Quando surgiu aquela complicação de uma tradição esotérica mágica, aí começou a complicar tudo. Aí então eles falaram isso é invenção.
LCMJ: Mas era algum tipo de experimentação. Não era um discurso parecido com nada. Parece um pouco com filosofia, mas não era filosofia.
LCM: Não, não era nada que pudesse colocar nos compartimentos acadêmicos.
LCMJ: A Carmina Fort, por exemplo, que fez uma entrevista com Castaneda, diz que na China as pessoas arriscavam a vida pra fazer contrabando do livro. Muitas pessoas seguem até hoje, e tem agora uma espécie de um tai chi, que é a tensegridade. Como é que você vê essa obra do Castaneda, você que traduziu o livro dele A Roda do Tempo?
LCM: É. Eu traduzi A Roda do Tempo, que já é um livro da última fase do Castaneda, da tensegridade, que cá entre nós, eu não simpatizo muito com esse negócio de tensegridade. Eu inclusive coloquei muito em questão isso, e o pessoal da tensegridade ficou chateado comigo. Porque é uma reviravolta muito grande no que eu estava acostumado a conhecer do pensamento do Castaneda. Quando eu soube que começou aquela papagaiada de fazer seminário em Los Angeles cobrando quatro mil dólares por pessoa.
LCMJ: E às vezes com a presença dele.
LCM: E ele só aparecia. Ele não fazia nada, só aparecia. As bruxas tomaram conta dele, tomaram conta de tudo. Principalmente a chefa, que é a misteriosa Carol Tiggs.
LCMJ: Você conheceu o Castaneda ou alguma das guerreiras pessoalmente?
D: Cara, que loucura isso!
LCM: O Castaneda, só na segunda atenção. (Risos)
LCMJ: Mas então você vê uma importância maior na obra inicial, na primeira metade da obra.
LCM: Sim, sem dúvida nenhuma. Os últimos livros eu acho que além de tudo não são tão bem escritos quantos os primeiros livros de Castaneda.
LCMJ: O estilo mudou muito, né? Aqueles seriam relatos do que ele lembrou na segunda atenção.
LCM: Mas isso a partir de O Presente da Águia, que volta o Don Juan, volta tudo. Mas a influência das feiticeiras é só nos finais, eu acho que A Arte do Sonhar em diante, O Lado Ativo do Infinito, aqueles fatos, eu acho aquilo uma verdadeira, como diria a minha amiga Maria Carmen Barbosa, cenoura na canja, eu acho que aquilo não tem nada a ver…
LCMJ: Você sabe que o Castaneda se torna mestre de kung fu, ele teve um baque de energia no meio do caminho, e ele oferece O Fogo Interior ao mestre Lee, que teria sido um mestre de kung fu. Você até especula isso numa introdução.
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