Entrevista com Luiz Carlos Maciel – parte 10
LCMJ: E a experiência de trabalhar num filme de Glauber, você conta no seu livro Geração em Transe…
LCM: Bernard Shaw dizia que homem não conquista mulher nenhuma, só as mulheres que conquistam os homens.
CC: Mas Dandara, isso não é verdade?
D: Eu não sei, eu não tenho muita…
LCM: O homem só pensa que conquista.
LCMJ: Tem vários gatos querendo uma gata e ela escolhe um.
D: Eu não tenho muito essa coisa na área da sedução, pra mim é mais uma coisa, uma experiência da minha expressão artística, eu espero, eu olho os que ficam a fim de mim, eu escolho.
LCMJ: Tá vendo, falou!
D: Mas dizer que eu enredo… (Risos) Eu escolho, mas eu não tenho esse exercício de querer enredar o homem.
LCMJ: Já tem toda a parafernália.
D: Eu acho que o cara tem que fazer o que ele quer também. Pra mim o afeto coletivo já é satisfatório.
LCMJ: Você é de Porto Alegre?
LCM: Sou.
LCMJ: Você primeiro foi pra Salvador, né? Como é que foi esse choque cultural?
LCM: Esse foi forte, depois quando eu vim pro Rio não.
LCMJ: Porque o gaúcho era muito formalista naquela época.
LCM: É. O meu choque cultural em Salvador foi materializado pelo Glauber Rocha. Eu fiquei completamente desbundado com o Glauber. Porque em Porto Alegre a gente tinha uma mentalidade muito colonizada, era muito aquela servidão à Europa, que a Europa era o berço da cultura e tudo mais. Eu me lembro dessa coisa de cinema, eu não conheci na minha geração ninguém que quisesse ser cineasta. Todos queriam ser críticos de cinema. (risos) Se conformavam com isso. Ser um criador de cinema era uma coisa inacessível. Quando eu cheguei na Bahia e o Glauber só queria ser o maior cineasta do mundo (risos), e fazia tudo pra isso, só trabalhava pra isso, eu fiquei espantado. Aí depois ele começou a me falar do que ia acontecer na Bahia, que a nossa geração na Bahia ia fazer o novo cinema brasileiro, o novo teatro, a nova música, a nova dança, ia sair tudo lá da Bahia. Completamente desvairado. Aí eu fiquei estatelado.
D: É você que faz aquela cena da escada?
LCM: Sou.
D: Aquilo é muito engraçado!
LCM: Eu pensei: esse cara é um louco ou um gênio!
D: As duas coisas, né?
LCM: É. (Risos) E ele me convenceu a ir pra Bahia. Eu fui pra Bahia pra ver qual era que esse cara tava falando, pra conferir.
LCMJ: Ele te conheceu no Rio Grande?
LCM: Não. Eu fui pra Bahia. Eu fui a um festival de teatro universitário que teve em Recife, e aí na volta eu parei na Bahia. E lá nesse festival de teatro eu conheci o Paulo Gil Soares, e o Paulo Gil então me deu o telefone do Glauber. E aí quando eu cheguei na Bahia eu liguei pro Glauber e fiquei conhecendo o Glauber.
LCMJ: E você ficou querendo ser cineasta também, né?
LCM: Eu fiquei querendo ser tudo. Eu sou quatro, peixes com ascendente em gêmeos, eu quero brincar na onze. Não consigo me fixar em nada.
D: Eu acho que você tem um perfil bem interessante.
LCM: Como o quê?
D: Investigação da liberdade.
LCM: Vieram me perguntar: ô Maciel, afinal de contas o que você é? Jornalista, filósofo, diretor de teatro, diretor de cinema…
D: Mas o pós-moderno é isso.
LCMJ: E o que você bota lá?
LCM: O que você é afinal de contas e eu não soube dizer pra ele.
LCMJ: Mas o que você escreve quando preenche a ficha? Escritor?
LCM: Escritor.
LCMJ: Você sente frustração de A Cruz na Praça não ter aparecido até hoje?
LCM: Ah, claro, eu ia fazer minha carreira como galã de cinema. (Risos)
LCMJ: Você teve medo na época assim, pra você, porque você é gaúcho, fazer um filme que discutia homossexualidade, com Glauber, com aquela linguagem arrojada, você sentiu algum…
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