DESAFIOS PARA UMA GESTÃO ÉTICA NO TERCEIRO MILÊNIO – Parte 3

Qual o interesse da maioria, em tal caso? Qual o consenso obtido após a divulgação ampla da questão, do apoderamento de seus dados totalmente transparentes por todos os interessados e da deliberação de uma maioria expressa como consumidores, mercado, eleitores ou audiência? Quando todos sabem amplamente os aspectos de um problema, ou conhecem bem um produto que lhes é oferecido, e manifestam a sua decisão sobre isso, cabe ao governo, à empresa e à mídia corresponder a esse desejo coletivo.

Isso seria um avanço maravilhoso no processo de democratização, totalmente coerente com as propostas de globalização do mercado; e ainda apresentaria novas e potentes soluções para as crises econômicas, financeiras e políticas.

Por exemplo: uma certa empresa produz tais artigos. Quais as condições da produção? Como trabalham os operários? Qual o percentual de impostos implicado no preço final? Qual a taxa de poluição de seus produtos? Como eles reagem no organismo das pessoas?

O interesse de divulgar tais dados é o maior possível da própria empresa. Quando todos os envolvidos (prestadores de serviços e consumidores) conhecerem-nos, podem manifestar a sua posição diante deles. Tipo: me interessa que para produzir tal rádio mulheres de várias faixas etárias, inclusive férteis, grávidas e lactantes, lidem diretamente com produtos de alto poder patológico, sem as devidas proteções? O público dirá que não, prefere não consumir tal produto, a ter que saber que o preço que paga vai além daquele da etiqueta, é um custo social intolerável.

Lembremos que cada criança ser lar e/ou sem escola tem um custo insuportável para todos os cidadãos e o estado.

Da mesma forma, com todos os estágios da produção, da distribuição e do consumo.

Quando o público tiver plena certeza de estar de acordo com as condições e as qualidades dos produtos e serviços que consome, ele usufruirá destes com muito mais vontade, muito mais interesse e até engajamento.

Ao invés de ter medo ou vergonha de usá-los, ele se sentirá bem, como alguém que compra uma obra de arte e a usufrui se sente bem, mesmo que tenha pago um dado valor por ela. Vale a pena pagar para obter algo que nos faz bem física e/ou espiritualmente.

Conhecer todos os aspectos do produto, saber que ele não implica em desrespeito aos direitos humanos, não faz mal à saúde ou não produz danos ambientais (ou, se os produz, os recupera, como no caso da política de empresas adeptas do “carbon free”, que replantam árvores suficientes para retirar da atmosfera o carbono a mais que a sua linha de produção liberara), ter essa consciência afirma o consumidor e o consumo, pode tornar o consumo integralmente feliz.

Diferentemente do “consumo conspícuo”, ele não comprará algo por razões que ele mesmo não conhece ou entende, mas se sentirá sujeito ativo e atuante, participante de um empreendimento valoroso, o qual lhe dá algo digno em troca de seu poder de compra, obtido por com trabalho, dignos estes dois também.

Lembremos ainda: isso vale para a obra de arte, para o alimento, para qualquer produto ou serviço, para a educação e a política. Pensem e façam as adaptações.

É um caminho simples, verdadeiro e, prestemos bem atenção, muito mais lucrativo. Na verdade, esse é o único caminho empresarial totalmente lucrativo.

Nós somos um, “we are the world”, como afirmou Michel Jackson. Estamos todos integrados, e a natureza das coisas é de tal modo, que todas as nossas práticas e obras também se integram.
O homem não só faz parte da natureza, ele e sua sociedade são a natureza em ação, uma parte da natureza capaz de autorreflexão e criação, e, por isso mesmo, ética. Nós humanos somos a natureza ética.

E é por isso que esse caminho filosófico da felicidade, essa busca de acordo para a melhor convivência, é hoje tão cobrado das empresas e dos governos por parte do público, que sente que essa é a melhor solução, a mais democrática, a mais lucrativa a longo prazo, e a mais bonita: a que produz os mais belos modos de existência.

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