CRISOPEIA

Livro: Crisopeia

Eluardo cavalgava tendo ao lado o ágil corcel de seu fiel escudeiro Mercúrio, os dois indo na direção da caverna onde morava o dragão que tinham por incumbência caçar. A caverna do dragão era um antro policrômico.

Havia fumaça almiscarada, jogos de luzes diáfanas, lantejoulas, glitter, imitação de baunilha, miríades de bijouterias aos pedaços, cornucópias, estrelas do mar nadando em um lago artificial, peixinhos no aquário, e, no leito adornado com escamas fulvas, o dragão il même, o qual avistou o rei ainda quando este encontrava-se no portal da floresta devido a que o dragão possuía olhos de águia e faro de lince.

No entanto o dragão considerou a incongruência da coisa. Havia um acompanhante cuja forma não se fixava como tal no olho místico draconiano ao qual absolutamente nada escapava quanto à essência. Então – como era possível – aquele ser não possuía essência? Mas havia também a disparidade de intenções e gestos.

O rei parecia lançar-se a uma caçada – o que divertia o dragão, pois se sabendo objeto de tão ardorosas buscas sentia-se lisonjeado simultaneamente a experimentar aquela espécie de antegosto de um jogo prazeroso, o de desbaratar caçadores, coisa na qual o dragão é expert. No entanto o rei não exibia em sua presença holográfico-mística aquela cor de espetáculo, sabem, a qualidade rapace dos caçadores em sua busca, um gosto de sangue e areia, prazer em devorar, frívola competição interespecífica de que só os homens são capazes – dispensando a necessidade. Não. O rei exibia antes uma aura de bondade e proteção que decididamente não combinava com aquela atitude armada de corcéis & escuderias, mas… dado tão singular escudeiro até que assentava tão igualmente esdrúxula entre floresta a dentro, e o dragão esperou, entre curioso e satisfeito: pois que inesperado, tudo! Uma imagem sem forma e um caçador caridoso…

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